Longe dos holofotes, treinando a equipe do Kalba SC, nos Emirados Árabes, o treinador brasileiro acompanha a Copa do Mundo de Futsal pela televisão. Marcos Sorato, campeão do mundo com a seleção brasileira em 2012, acha que o Brasil tem tudo para recuperar a hegemonia da modalidade. Ele fala do torneio, critica FIFA e comenta sobre o difícil mercado para os técnicos brasileiros.

Luis Domingues
Marcos Sorato, o Pipoca, campeão mundial em 2012. Foto: Luis Domingues

Depois de 12 anos, chegou o momento do Brasil voltar a ser campeão do mundo?

– Estou muito confiante. Temos uma defesa sólida e bem trabalhada, grandes goleiros, e só o Brasil tem cinco ou seis atletas que podem decidir um jogo numa jogada individual. As eliminações de Portugal e Espanha abrem o caminho para a nossa seleção, mas também devem servir de alerta.

Porque o Brasil está há tanto tempo sem ganhar?

– Depois de 2012 houve muitas brigas políticas que prejudicaram totalmente a seleção. E mesmo assim, em 2016, perdemos para o Irã, que estava muito bem, na prorrogação. Após o mundial da Colômbia a CBF assumiu a seleção de futsal, as condições melhoraram e em 2021 perdemos na semifinal para a Argentina que era a campeã do mundo. Tivemos erros nos dois mundiais anteriores, mas os adversários não eram fracos.

Como explicar a eliminação da Espanha?

– As gerações da Espanha vêm se enfraquecendo. Tem a melhor liga do mundo quanto organização, mas não a mais difícil. Antigamente eram dois ou três estrangeiros por equipe e hoje há um número muito maior. E os estrangeiros fazem a diferença em questões técnicas. Neste mundial, quando encontraram um sistema defensivo muito sólido, não tiveram solução técnica para abrir essa defesa. Além disso, existe uma enorme briga política e de egos no comando da modalidade.

E Portugal também ficou pelo caminho?

Vi um Cazaquistão muito focado e competitivo. Kaká, técnico brasileiro, faz um excelente trabalho. Portugal repetiu o Brasil em 2016, que caiu nas oitavas de final depois de ser campeão na edição anterior. Li uma entrevista do treinador português em que dizia que a sua seleção não tinha nenhuma obrigação de ganhar. Algumas vezes isso prejudica. Uma pressão, por mínima que seja, sempre faz bem.

Vimos cenas lamentáveis no jogo entre França e Irã. Nenhuma das seleções queria ganhar. Elas mereceriam exclusão do campeonato?

– Se tivesse sido previsto no regulamento anteriormente, com certeza. Não creio que esteja no regulamento. Foi muito feio e prejudicial ao futsal, mas já aconteceu no futebol, na fórmula 1, no vôlei e em outras modalidades. O futsal não tem culpa.

Como está o mercado para treinadores brasileiros?

– É um mercado muito difícil. Temos bons profissionais trabalhando no exterior, mas existe espaço para mais. O treinador brasileiro tem uma grande variedade tática e estamos na estrada desde a década de 80. Temos excelentes treinadores de base. Mas criou-se uma mentira, que o Brasil, por ter os melhores jogadores, ganhava apenas pela qualidade individual. Claro que temos grandes atletas, mas sem disciplina defensiva ninguém vence campeonatos.

O Futsal melhorou sob o comando da FIFA?

Infelizmente, não vi avanços significativos nesses 36 anos sob o comando dela. A FIFA adotou o futsal em 1988, prometendo uma série de coisas e até a entrada como modalidade olímpica já em 1992. As justificativas para não sermos olímpicos são frágeis. Diziam que não tínhamos número de países praticantes e hoje temos mais de 160. Argumentaram que não tínhamos o naipe feminino. Hoje já temos. E falaram também sobre unificação das regras. O basquete não tem regra unificada e está nas Olimpíadas. No Rio 2016, que seria uma grande oportunidade, os esportes de apresentação foram Rugby e Golfe, sem nenhuma tradição no nosso país. Além dessa questão, os mundiais são jogados em países sem a menor tradição. Porque não colocam os grandes centros como sedes? Sou muito pessimista pensando no futuro