Final de campeonato, jogo pegado, pressão total do adversário. No placar, a vantagem de 2 a 1, que pode ruir a qualquer momento até que a bola sobra e alguém chega batendo de primeira de antes do meio da quadra. Com o goleiro fora da meta, o destino é certeiro, bola na rede e mão na taça. Já seria marcante por si só, mas para Rodrigo o sabor é ainda mais especial, afinal, trata-se do 300º dele com a camisa do Sorocaba.
A cena aconteceu nos minutos finais da decisão da Taça Brasil entre a equipe do interior paulista e o Joinville. O resultado final foi de 3 a 2 para Sorocaba, que garantiu o título inédito – o único que faltava na galeria do clube.
– Costumo brincar que todos os gols são marcantes, mas esse, em uma grande final, um título que não tínhamos, é mais ainda. Do jeito que foi, no momento de um jogo tenso contra Joinville, a bola sobrou, vi que o goleiro estava fora e cheguei batendo de três dedos. Na hora a gente não lembra que é de número 300 nem nada, só que é uma final, importante e pode ser o gol do título. Depois da comemoração e que baixou a adrenalina é que pensei sobre isso. Fiquei bem feliz com esse gol – conta o capitão do Magnus.

Rodrigo beija o troféu de campeão da Taça Brasil: gol do título inédito, o de número 300 do Capita com a camisa do Magnus. Foto: Guilherme Mansueto
No clube desde sua fundação, em 2014, Rodrigo não só é o maior artilheiro da história da equipe, mas também o único presente em todas as conquistas. Em entrevista ao ge, o capitão falou sobre a trajetória no clube e a expectativa de disputar mais uma Copa do Mundo de futsal – seu último ato, aos 37 anos, pela seleção brasileira -, entre outros temas. Confira:
Gols mais marcantes
– O primeiro da Arena Sorocaba, nossa casa, nas quartas de final contra Jaraguá do Sul, com o ginásio lotado, foi marcante. Os gols nas estreias nos Mundiais, que somos os atuais tricampeões e em todas as estreias fiz gols que são importantes. E contra o Corinthians, que é um dos maiores clássicos e fiz gols em finais. Tenho um carinho enorme pelos meus gols e o mais legal é marcar o número em uma instituição que te abraçou desde o início. E acho que é um número difícil de ser batido. Posso parar que o pessoal vai ter que jogar muita bola para superar esses 300.
2020 e a pandemia
– Pela dificuldade do ano, foi (a maior temporada da carreira). Meu filho nasceu no auge da pandemia, foi um momento difícil onde só poderíamos ficar eu, ele e minha mulher. A loucura de voltar, não voltar. E aí fomos campeões invictos do Paulista, da Liga, artilharia, melhor jogador da LNF. Tive alguns momentos bons ao longo desses oito anos, mas ano passado foi marcante por toda a dificuldade que superamos e conseguimos conquistar os títulos.

Gols contra o Corinthians estão entre os favoritos de Rodrigo pelo Magnus; Capita marcou na decisão da LNF de 2020 sobre o Timão. Foto: Guilherme Mansueto
Maior jogador da história do clube
– É uma sinuca, hein? Acho que meus números são os maiores da história, mas não posso superar o Falcão. Ele é o rei, quem idealizou esse projeto todo, a camisa dele está eternizada aqui, então depois dele, pode ser o Rodrigo. Mas antes, não. Pela história toda, por ele ter feito esse projeto, porque sem ele e o Fellipe (Drommond, presidente do clube) não existiria tudo isso. Tenho números para isso, mas é difícil superar o rei. Nunca vou superá-lo.
Onde está no “hall da fama” do futsal?
– Se comparar com outros atletas é difícil, pois as gerações aconteceram e era um outro futsal. Para mim o Falcão é o número um e o Manoel Tobias o dois. São grandes atletas. Me coloco entre os 20. Creio que tenho números para isso, mas pelo desenvolvimento do esporte, é muito difícil comparar gerações. Temos que ter um pouco de cuidado.

Rodrigo abraça Falcão em jogo no Grand Prix de 2014. Desde então, seleção passou por vários problemas internos. Foto: Luciano Bergamaschi
Motivação
– Acordar todo dia, fazer o que eu amo e receber para isso. Sempre sonhei em jogar bola, então essa é a minha motivação. Quando vejo o Leozinho, o Ricardinho querendo ganhar e vibrando com gols, não tem sensação melhor que a de ser campeão. Acho que todo mundo deveria passar por isso um dia. É maravilhoso, gosto muito disso. É meu prazer e sempre quero mais. Há 10 anos eu pensava “essa é mais uma final”. Agora é menos uma final. Estou com 37 anos, vou sentir falta disso e nem tanto o jogar. Mas o clima de uma decisão, o dia anterior.
“O capita é raiz”
– Isso passa pelo Fred. Um ano antes que ele chegasse aqui, havíamos sido campeões também. Todos conheciam o Rodrigo, alguns torciam o nariz por eu ser ranzinza, bravo dentro de quadra. Quando veio com a série, o Fred abriu o nosso dia a dia e fiquei preocupado. Eu falo palavrão, brinco com os moleques e ele me disse para ser eu mesmo. E foi aí que ele me apresentou a marca “Capita”. O cara sério, que usa a camisa para dentro do calção, o meião no treino. E aí virou esse negócio do capitão raiz. Eu sou isso aí.

Camisa por dentro do calção e meião até nos treinos: Rodrigo gosta de enfatizar a marca de “jogador raiz” no esporte. Foto: Guilherme Mansueto
Seleção brasileira
– Tive o prazer de ser campeão e a dor de sofrer uma derrota dura. Cair muito cedo para o brasileiro é difícil. O futsal agora está se reorganizando novamente com a CBF, estamos muitos felizes, mas estamos recebendo essa estrutura há um mês do mundial. Vou fazer de tudo para voltar com esse título para o Brasil, darei a minha vida pela Seleção e todos os atletas que estarão lá farão isso. Temos que colocar o Brasil lá novamente, o que vai ser bom para todos que vivem do esporte.
Futsal nas Olimpíadas
– A chancela do futsal é da Fifa. Se o futsal entrar nas Olimpíadas, vai ficar igual o futebol de campo, com limite de idade. E tem muita coisa que o futsal tem de melhorar, essa é a verdade. Pratico um esporte que não é nem reconhecido como profissional, então, temos que melhorar muito a nossa casa para depois querer um lar maior. Vemos um monte de atleta sofrendo pra caramba e estando lá. Questionam o basquete de três, mas não temos que reclamar por eles estarem lá, mas sim parabeniza-los. Nós não tivemos essa força ainda. Não queremos que ninguém saia para que a gente entre, não é justo isso. Queremos entrar por merecimento e trabalho mostrado. Agora temos que aproveitar o mundial. Esse é o momento do futsal, o mundo estará parado olhando para nós.

Campeão em 2012, Rodrigo vai para a terceira Copa do Mundo e espera superar frustração de 2016, quando o Brasil caiu nas oitavas de final para o Irã. Foto: Yuri Gomes
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