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Pito é o maior nome da Seleção Brasileira

Jackson pode ter sido seu nome, mas seu sonho não era seguir Jackie, Tito, Jermaine, Marlon e Michael até o estrelato pop. Os sons que ele queria criar eram de bolas de futebol voando contra as redes. Os grandes objetivos eram se tornar um jogador de futebol profissional e representar o Brasil. A barriga-verde – nome curioso para quem é catarinense – marcou o primeiro item. Ele, entretanto, não conseguiu vestir aquele uniforme amarelo-canário. Não importava, disse ele às pessoas: ele cumpriria a meta dois através de seu filho. Ele tinha dois: Jan Jackson e Jean Pierre.

No final dos anos 90, enquanto este último passava da distribuição de panfletos na praia para trabalhar como garçom de um vendedor em uma loja de roupas, o primeiro estava a caminho de realizar o sonho do papai. Jan era o prospecto mais aguardado do Internacional – clube que acabara de catapultar Alexandre Pato para o centro das atenções. Quinze anos depois, um irmão trabalha como vendedor e o outro realiza a fantasia do pai de chutar bolas pelo Brasil. Surpreendentemente, porém, é Jan Jackson quem comercializa equipamentos médicos e Jean Pierre quem representa a Seleção Brasileira no futsal.

Pito, como é conhecido, não joga apenas pelo Brasil. Um dos jogadores mais emocionantes e únicos que o esporte já viu, o pivô do Barcelona foi, aos 32 anos de idade, no mês passado, eleito o Melhor Jogador do Mundo pela primeira vez. A FIFA conversou com Pito para discutir esse triunfo, seu caminho incomum até o topo, a próxima Copa América de Futsal, a rivalidade do Brasil com a Argentina e sua determinação em vencer a Copa do Mundo de Futsal da FIFA™.

FIFA: Jackson tinha uma grande perspectiva como filho, mas não era você, certo?

Pito: (risos) Meu irmão era a joia da família. Ele era muito, muito bom. Ele perseguiu 11 de cada lado. Jogou pelo Internacional na categoria Sub-20 e treinava na seleção principal, mas teve que passar por duas cirurgias no joelho. Ele não tinha mais cartilagem, não conseguia treinar todos os dias. O médico disse que ele teria que parar de jogar ou, quando chegasse aos 40, não conseguiria andar. Então ele parou de jogar e o fardo ficou nos meus ombros (risos). Alguém da família tinha que sobreviver. Queria seguir os passos do meu pai quando era jovem, tornar-me jogador de 11, mas o meu percurso levou-me ao futsal. Graças a Deus saiu e aqui estou.

É verdade que você só foi contratado pelo seu primeiro clube porque, quando eles quiseram contratar o Jan, sua mãe insistiu que ele só entraria se eles contratassem você também?

(risos) É verdade. Eu tinha sete, oito anos. Queriam muito que ele entrasse, estavam na cara dele, mas minha mãe falou: ‘Ele só vai se o irmão for também’ (risos) . Eles só aceitaram porque meu irmão era muito bom. Eu devo a ele por isso!

Você pode nos contar sobre como abandonou o futsal no final da adolescência?

Parei de jogar duas vezes. A primeira foi porque eu não conseguia mais estudar pela manhã. Tinha que estudar à tarde, que era quando treinava. Depois de um ano consegui mudar de faixa e voltei a jogar futsal. Joguei mais alguns anos, mas depois desisti novamente porque o clube em que jogava não tinha time para minha faixa etária. Eles investiram tudo nas fileiras profissionais. Ou era jogo pela seleção principal ou nada. Eu ainda era jovem e, para ser sincero, não era muito bom na época, então tive que sair e arrumar um emprego. Trabalhei distribuindo panfletos, como garçom, em uma loja de roupas. Mas não aguentei nada!

Qual foi a sensação de disputar a Copa do Mundo de Futsal da FIFA pela primeira vez?

Fui a realização de um sonho. Obviamente meu sonho também incluía ser campeão mundial. Infelizmente perdemos nas meias-finais, mas conseguimos ganhar uma medalha. A Copa do Mundo é outra coisa, é o auge do esporte, tem o mundo inteiro assistindo. Realizei um sonho ao jogar a Copa do Mundo de 2021 e agora estou determinado a realizar outro sonho ao vencê-lo este ano.

Primeiro, o Brasil precisa reivindicar uma das quartas vagas oferecidas na Copa América…

A qualificação para a Copa do Mundo fica cada vez mais difícil. Temos que treinar, nos preparar o máximo possível porque se estivermos abaixo do nosso melhor não vamos conseguir. As pessoas falam sobre Brasil e Argentina, mas há muitos lados bons na América do Sul.

Argentina e Brasil estando no mesmo grupo torna tudo ainda mais difícil, certo?

É uma situação diferente. Argentina e Brasil são sempre os cabeças de chave no sorteio. Não fomos porque perdemos para a Argentina nas semifinais da última Copa América. Estamos no mesmo grupo, enfrentamos eles no último jogo, será um jogo muito difícil, mas espero que desta vez consigamos vencer. Nos últimos três torneios que joguei contra a Argentina, perdemos. É difícil de aceitar, isso chega até você. Já é ruim o suficiente perder três vezes consecutivas para qualquer time, mas contra seus maiores rivais dói muito.

Portugal tem dominado o futsal nos últimos anos. O que acha desta seleção de Portugal?

Você não ganha nada da noite para o dia. Portugal trabalhou muito durante muito tempo para ser o melhor. Tinham jogadores de destaque como Ricardinho, Cardinal, mas os grandes títulos lhes escapavam. Finalmente o seu trabalho árduo começou a dar frutos e ninguém pode negar que dominou nos últimos anos. Ricardinho consagrou sua carreira incrível na Copa do Mundo e depois passou o bastão. Portugal tem muitos grandes jogadores para carregá-lo.

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Portugal é a seleção a ser batida

Como você acha que o Brasil se compara a Portugal?

Acho que o Brasil tem, sem dúvida, os melhores jogadores do mundo. Acho que nos ciclos anteriores o que nos prejudicou foi que durante os intervalos da FIFA não conseguimos reunir todos. Foram apenas os jogadores baseados no Brasil ou apenas os baseados na Europa. Este ciclo tem sido diferente. O Marquinhos tem conseguido reunir todo mundo, desenvolvemos um entendimento. Acho que isso fará uma grande diferença em jogos disputados.

Como foi no mês passado, aos 32 anos, ser eleito o Melhor Jogador do Mundo pela primeira vez?

Foi uma grande honra. Fiquei encantado. Há tantos jogadores incríveis que mereciam este prêmio, então recebê-lo foi realmente especial. Acho que estou em um grande momento na minha carreira. Estou mais maduro e tive um ano muito bom, consegui me manter consistente. Estava determinado a ter um ano muito bom porque era antes da Copa América e da Copa do Mundo, o que é extremamente importante para mim. O prêmio foi uma grande honra para mim e minha família.

A última vez que alguém fora da cidade de Chapecó foi eleito o Melhor Jogador do Mundo foi em 2018…

(risos) Chapecó, amamos nossa cidade. Não é muito grande. É quase impossível que isso tenha acontecido. Dois caras, dois pivôs, ambos no Barcelona, ​​ambos eleitos os melhores do mundo. É inacreditável quando você pensa sobre isso. É muito gratificante para nós dois e para Chapecó.

Você conhece Ferrão desde criança…

Tocamos juntos por um curto período quando tínhamos nove, dez anos. Ele permaneceu na AABB apenas por cerca de seis meses. Ele não estava feliz com algo que foi para o CRS, então passamos de companheiros de equipe a rivais. Eu o conheço, sua família há muito tempo. Eu me dou muito bem com o pai dele, a mãe dele. Fiquei muito tempo sem falar com ele, porque ele saiu cedo de Chapecó. Ele era mais avançado que eu, seu corpo havia se desenvolvido antes. Demorei mais para chegar à Europa. Agora estamos juntos em Barcelona. É muito legal. Ele é um cara legal.

O que você acha dele como jogador?

Uma estrela. Sem sombra de dúvida. Ele é o melhor do mundo. Seu estilo de jogo é incomparável ao de todos os outros. É uma pena que ele tenha sofrido lesões – pelo Brasil, pelo Barcelona, ​​pelo futsal. Mas eu conheço Ferrão. Ele estará de volta e voltará a ser o melhor.

Você menciona o estilo de Ferrão, mas as pessoas dizem, devido ao seu tamanho e habilidades, que você é um dos jogadores mais singulares da história do futsal. Você concorda?

Eu acho que sou diferente. Acho que houve outros jogadores diferentes. Fernandinho, outro brasileiro, foi um deles. Não acho que sou um pivô típico. Saio pela lateral para driblar, para criar e volto para defender. Procuro fazer um pouco de tudo. Tento sempre dar o meu melhor em todos os aspectos do jogo. Sim, acho que sou um pouco único.

Uma de suas especialidades é o chute de bicicleta. Como você ficou tão bom nisso e, dadas as superfícies duras, você consegue treinar fazendo isso?

É algo que faço desde pequeno. Na minha casa cresci, tínhamos um espaço grande com grama para jogarmos futebol. Brinquei com meu irmão, meus amigos. Sempre adorei experimentar coisas diferentes, e os chutes de bicicleta estavam entre eles. A primeira que fiz no futsal, quando jogava no Carlos Barbosa, não foi algo que planejei. Foi algo que aconteceu naturalmente. Estava lá para o chute de bicicleta e como eu já dominava a técnica quando criança, fui em frente. A partir de então tem sido uma arma para mim. Mas não é algo que eu possa treinar – se eu continuar caindo em quadra dura repetidas vezes, acho que quebraria as costas!

Você joga ao lado de Dyego pelo Barcelona e pelo Brasil. O que você acha da forma em que ele está?

Ele é outro jogador sensacional. Extremamente talentoso. Ele não recebe o reconhecimento que merece do mundo do futsal. Ele não se comunica muito nas redes sociais e acho que por isso não é falado tanto quanto deveria. Mas todos que jogam ao seu lado ou contra ele sabem que ele é um jogador magnífico. Ele tem tantas qualidades e é um dos melhores jogadores do mundo.