Orlando Bento
Peri Fuentes ficou sete anos no Minas Tênis Clube, de Belo Horizonte, onde conquistou a Taça Brasil de 2020.

Sem futsal desde 2003, o Inter marcou época com equipes profissionais e de base que conquistaram diversos títulos nas quadras do Brasil e do mundo. Além disso, formou uma geração de profissionais que, até hoje, está espalhada nos quatro cantos do país. Um deles é Peri Fuentes, atual treinador do Umuarama, do Paraná, que trabalhou na escolinha do Colorado no final dos anos 1990.

Aos 51 anos, o técnico gaúcho, nascido em Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, tem a missão de repetir em terras paranaenses o sucesso que teve no Minas Tênis Clube. Em Belo Horizonte, além dos títulos da base, conquistou a Taça Brasil, em 2020, com a equipe adulta.

Em entrevista a GZH, Peri Fuentes conta como se tornou treinador, mesmo não tendo sido atleta do futsal. O técnico será um dos adversários dos gaúchos ACBF, Atlântico e Assoeva na Liga Nacional deste ano.

Como começou a sua relação com o futsal?

Acho que como todo brasileiro, o futsal foi o primeiro esporte que eu pratiquei. Na minha infância, não foi diferente. Morei em Santana do Livramento até os 7 anos e depois fui para Porto Alegre. Joguei futsal na escola. Era uma outra época. A gente vivia na rua, brincando. Na década de 1980, quando eu fui para a Capital, tanto Grêmio quanto Inter tinham equipes profissionais. Era muito legal. Tinha transmissões do Estadual, Citadino e até mesmo jogos que a gente podia assistir no Gigantinho, no Colégio Rosário. A rivalidade do Rio Grande do Sul, do campo, se transferiu para o futsal. Isso deu aquele apelo para o futsal desde cedo. Por ser colorado, torcendo muito para o Inter. Sempre gostei de assistir. Até as rádios transmitiam. Foi amor à primeira vista.

E a trajetória como técnico?

Comecei a fazer faculdade de Educação Física em 1993. Já no primeiro ano da faculdade, recebi um convite para trabalhar em uma escolinha de futsal chamada Rola Bola, na zona norte de Porto Alegre. Eu morava na zona sul e estudava no IPA (Centro Universitário Metodista). Eu me apaixonei pela profissão. No início, me via como professor de escolinha e gradativamente, passando-se os anos, fui tendo ainda mais contatos. Criamos uma escolinha de futsal também. Depois, passei a trabalhar na escolinha do Inter, que era muito forte. Na época, em 1997, o Inter tinha sido campeão da Liga Nacional, um ano antes, campeão mundial contra o Barcelona. E aí me fez crescer ainda mais a vontade de ser técnico. Porém, nem pensava em ser treinador de equipe adulta.

Quais foram as principais dificuldades enfrentadas no início?

Eu não fui atleta. Não joguei em nenhuma equipe de base, muito menos profissional. Se inserir nesse mercado, como técnico, primeiro da base e depois do adulto, é algo a longo prazo. Eu dei muita sorte na carreira. Portas foram se abrindo, principalmente quando comecei no Inter. Logo no meu segundo ano no clube, fui convidado para ser técnico na competição pré-mirim, paralelamente à escolinha. Depois, veio mirim, infantil, juvenil, auxiliar técnico, e assim por diante. As dificuldades foram, primeiro, uma porta para entrar, e, em seguida, a consolidação, mesmo não sendo um ex-atleta de futsal.

Você ficou sete anos no Departamento de Futsal do Minas. Pela equipe principal, conquistou a Taça Brasil de 2020, além de ter vencido três títulos do estadual com o time sub-20. Quais são as melhores lembranças nesse período? A que você acha que se deve esse sucesso em Belo Horizonte?

Eu fui para lá em 2016, a convite do Paulinho Cardoso, que era técnico da equipe profissional na época. Eu tinha trabalhado durante três anos na ADHering, em Blumenau. Tínhamos feito um bom trabalho em 2014. Surgiu uma vaga como auxiliar ténico do Paulinho Cardoso e para técnico do Sub-20 no Minas. O Paulinho era um treinador com características e estilo de jogo completamente opostos ao meu. Para mim, foi uma espécie de reciclagem para aprender coisas novas, cruzar informações e, depois, amadurecer o que eu achava necessário. Fiquei três anos nesse função de auxiliar e técnico do sub-20 e quatro anos na equipe adulta.

Quando o Paulinho saiu, a gente teve que reconstruir uma equipe adulta com a base do sub-20 que vinha comigo há três anos. O Minas tinha perdido um patrocinador master, que era muito forte. Tinha um projeto, que acabou. Acredito muito nesse processo de continuidade de trabalho. O grande segredo foi a continuidade. Conquistamos muitos títulos na base, campeão sub-20, bicampeão sub-17, além da conquista da equipe adulta na Taça Brasil.

No final de 2022, você assumiu o Umuarama. Qual é o principal objetivo da equipe para essa temporada?

O Umuarama é uma equipe de muita tradição no Paraná. Foi bicampeã paranaense. Já foi semifinalista da Liga Nacional. Enfrentou alguns problemas nos últimos anos, em função da pandemia, um acidente de ônibus (o motorista e o coordenador das categorias de base morreram no acidente, em julho de 2021), e passa por uma retomada de uma filosofia de trabalho e reconstrução de elenco. O primeiro ano foi de adaptação ao calendário paranaense, que é bem complicado e desgastante, em virtude de ser o principal campeonato regional do país. Aliado ao campeonato nacional, você precisa entender e aprender a lidar com essa maratona de jogos. A nossa expectativa para esse ano é, primeiro, criarmos uma equipe com identidade, com uma forma de jogar e fazer com que a equipe amadureça, cresça e se desenvolva. Para isso, a gente precisa ter confiança para ter esse tempo e, claro, precisamos de resultados.

Qual é a sua opinião sobre o futsal gaúcho? Ele tem algo de diferente do futsal praticado nas demais regiões do Brasil?

O futsal gaúcho sempre foi forte. Já foi o principal do país. Hoje, ele perdeu um pouco do espaço. Vem retomando, buscando um novo crescimento. Vejo muitas equipes tradicionais retornando e investindo. Acho que algumas equipes precisam se estruturar melhor fora de quadra, mas vejo o futsal gaúcho crescendo de uma maneira geral, principalmente através da Liga Gaúcha. Como característica, o futsal gaúcho tem muita marcação, muita competitividade, não que os outros Estados não tenham isso, mas é algo forte no Rio Grande do Sul. Tenho vontade de voltar a trabalhar no Estado. É um campeonato competitivo, que vem retomando aquele crescimento. Passou por uma fase complicada, mas está em um ritmo de crescimento legal. Logo, teremos mais equipes de sucesso, a prova disso é o Atlântico, campeão da Liga Nacional.