Quem acompanha as páginas da editoria de esportes do Diário Popular liga o nome de Gustavo Paradeda à gestão esportiva. Afinal, o profissional foi responsável pelo futsal adulto do Paulista no ano passado, conquistando o terceiro lugar na Série Ouro do Gauchão e, nesta temporada, inicia a administração do Pelotas para a Liga 2. Claro que é impossível não se lembrar do Gustavo atleta de futsal e da sua proteção na cabeça. O melhor goleiro do mundo em 2013 e um paredão fechando a meta da Rússia na Copa do Mundo da Colômbia em 2016. Mas o que poucos sabem, sendo a história que a segunda reportagem do quadro “Memórias do Esporte” conta, é que o viés administrativo sempre esteve com o goleiro pelotense e o ajudou na carreira vitoriosa.

Em 2013 Paradeda foi eleito o melhor goleiro do mundo. Foto: Arquivo Pessoal
O perfil de liderar foi testado desde a primeira vez que Gustavo estreou em uma quadra como profissional. O ano era 1997 e a cidade era Marau, no interior do Estado. Paradeda, um garoto com 17 anos, entrou no vestiário e viu o uniforme estendido. Em cima dele, uma faixa de capitão. O que achou que era uma brincadeira do roupeiro, era na verdade o ponto de partida de uma jornada que iria conquistar o mundo. “Está com medo de jogar, nem vai”. Frase dita pelo lendário técnico PC Oliveira. Gustavo não teve medo.
Paradeda não sentiu o peso da estréia aos 17 anos, no Inter/Ulbra , mesmo atuando ao lado de craques como Manoel Tobias, Ortiz e Jorginho, que recentemente haviam sido campeões mundiais. Nem o erro no lançamento que originou o gol do Marau e deixou o placar apertado até o final da partida foi capaz de intimidar o novato goleiro. O pelotense também não teve medo, aos 24 anos, quando decidiu deixar o Brasil e ir explorar o recente futsal do Cazaquistão.

Pelotense foi campeão do mundo de clubes pelo Dínamo de Moscou. Foto: Arquivo Pessoal
Gustavo desembarcou em Almaty, maior cidade do país asiático, para defender o novato Kairat. Era a terceira temporada da Liga do Cazaquistão. Uma realidade muito diferente do Brasil, inclusive tendo uma estrutura muito menor do que o atleta possuía nos tempos de base no Clube Brilhante, aqui em Pelotas, por exemplo. O Kairat não tinha quadra própria para treinar e nem mesmo material de treino. Cada atleta treinava com o próprio fardamento que levava de casa. Gustavo e outros brasileiros foram mais que jogadores dentro da quadra. Ajudaram na estruturação da equipe que sonhava ser campeã européia. Inclusive auxiliando na construção do Centro de Treinamento.
Quando o Kairat chegou lá e ergueu o principal troféu europeu na temporada 2012/2013, Paradeda estava no lado oposto e no melhor ano da carreira. Defendia o Dínamo de Moscou. O pelotense ficou com o vice-campeonato, mas saiu com o “gostinho” de campeão. “Esse título também tem um pedaço teu”, foi a frase que Gustavo ouviu do presidente do clube do Cazaquistão ao fim do jogo.
O processo de construção do Kairat também correu na Sibéria. Paradeda decidiu aceitar o desafio de defender o Sibiryak em um dos lugares mais frios do mundo. No primeiro ano morando na Rússia viveu um inverno entre -30 e -35 graus. Chegava a utilizar três calças ao mesmo tempo e tudo que pudesse colocar de roupa para ir de casa até o ginásio treinar. Na Sibéria virou Russo. Conseguiu o passaporte e passou a ser convocado para a seleção do país onde disputou 59 jogos, perdendo, no máximo, cinco. Levou o pequeno Sibiryak ao segundo lugar da Liga Nacional e amadureceu ainda mais o viés de gestor. A equipe, pela primeira vez, havia terminado a fase classificatória em primeiro lugar no geral. Porém, antes dos playoffs, perdeu para o oitavo colocado, que seria o adversário na próxima fase. O elenco acabou entrando em estado de confronto. Paradeda sentiu que o time não venceria se continuasse discutindo entre si. Ligou para o presidente e pediu que ele desse aos atletas um prêmio pela melhor campanha na história do clube. O resultado foi uma massacrante classificação e o vice-campeonato russo. O maior feito do Sibiryak até hoje.

Paradeda disputou dois mundiais pela Rússia. Foto: Arquivo Pessoal
O pelotense também precisou saber administrar o medo. Foram duas pancadas fortes na cabeça que o deixaram desacordado. A primeira, com uma fratura no osso frontal da face, e internado no hospital. Gustavo pensou em parar para evitar que algo mais grave pudesse ocorrer. Ouviu o pai que o incentivou a continuar. Com o capacete protetor, foi em frente. Chegou ao Dínamo de Moscou, conquistou o Mundial de Clubes, o Campeonato Russo, a Copa da Rússia, a Supercopa e, finalmente, o título de melhor goleiro do mundo.
O Petr Cech das quadras, apelido que recebeu por jogar com proteção, assim como goleiro do Chelsea – na época um dos melhores do mundo – também disputou duas Copas do Mundo de Seleções pela Rússia. Foi finalista em 2016 na Colômbia em uma das partidas que considera a principal da carreira.
Do interior do Rio Grande do Sul para desbravar o norte asiático e tornar-se um dos maiores nomes do futsal russo, a história de Gustavo Paradeda como atleta reservou caminhos improváveis e vitoriosos que o agora gestor pretende repeti-la fora das quadras.