A premissa vale não só para o futsal, mas para qualquer esporte de alto rendimento: não se faz um time campeão mundial em apenas 30 dias. Pois foi esse o tempo de preparação do Brasil para a Copa do Mundo de Futsal 2021. Por conta de todos os problemas enfrentados pela modalidade, a seleção convocada pelo técnico Marquinhos Xavier pouco se reuniu ao longo dos últimos cinco anos. Por essa ótica, o Brasil não teve um resultado tão ruim no Mundial da Lituânia – escrevo esse texto dois dias após a derrota para a Argentina na semifinal e dois dias antes da disputa do terceiro lugar.

 Angel Martinez

Leozinho desolado após a derrota para a Argentina. Foto: Angel Martinez

Neste domingo, às 12h, a Globo e o SporTV transmitem Brasil x Cazaquistão válido pelo terceiro lugar. Logo depois, às 14h, o Canal Campeão transmite as emoções da grande final entre Argentina e Portugal. As duas partidas também terão acompanhamento em tempo real no ge.

É claro que o torcedor pode argumentar que o Brasil é o país do futsal e que tem que estar sempre no topo da modalidade. De fato, somos os maiores campões do mundo com cinco títulos pela Fifa (1989, 1992, 1996, 2008 e 2012) e dois pela Fifusa (1982 e 1985). Contudo, o futsal não é mais o mesmo de anos atrás.
Com o crescimento da modalidade, novas forças foram surgindo, descentralizando o futsal antes restrito a Brasil e Espanha. Portugal tem uma das melhores ligas do mundo. O Cazaquistão também tem uma liga forte e uma das melhores equipes do planeta, o Kairat Almaty. Argentina, Irã, Japão e os países do leste europeu também se fortaleceram. E o Brasil parou no tempo nesse sentido.

Estamos parados no que diz respeito à estrutura, embora a qualidade dos nossos atletas siga no topo da pirâmide. Antiga gestora da seleção, a Confederação Brasileira de Futsal (CBFS) apresenta graves problemas financeiros. Tais problemas refletiram em quadra com a realização de poucos amistosos e competições ao longo dos últimos cinco anos – não foram quatro anos entre a última Copa e a atual devido ao adiamento do Mundial da Lituânia de 2020 para 2021.

Angel Martinez

Marquinhos Xavier é o técnico da seleção desde 2017. Foto: Angel Martinez

No Mundial de 2016, na Colômbia, o futsal brasileiro chegou ao fundo do poço com a eliminação nas oitavas de final, sua pior colocação em Copas do Mundo. Na época, a modalidade enfrentava uma de suas piores crises com mudanças na confederação e até boicote de jogadores em protesto contra dirigentes.

Veio o novo ciclo, alguns problemas foram sanados, mas o futsal brasileiro continuou carente de uma estrutura de nível. Em 2017, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) interviu pela primeira vez na modalidade passando a participar da gestão da seleção através de uma tripartite, que envolveu uma empresa e a própria CBFS. A parceria, no entanto, durou apenas alguns meses.
Com a volta da CBFS, toda a comissão técnica foi mudada. Saiu PC Oliveira e entrou Marquinhos Xavier. Por mais que os dirigentes se esforçassem, o país seguiu estagnado em estrutura. As dívidas da CBFS se acumulavam, e a seleção foi ficando para trás em relação aos principais rivais. Mesmo tendo os melhores jogadores do mundo. Mesmo sendo exportadora de talentos. Mesmo sendo o país do futsal.

Em 2020, o Brasil sediou as Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo da Lituânia. A derrota para a Argentina na final parece que não serviu de sobreaviso aos dirigentes. Pior, o país enfrentou um de seus momentos de maior inércia no atual ciclo. De fevereiro de 2020 a setembro de 2021 a seleção brasileira ficou sem jogar.

 Agence Rio Divulgação

PC Oliveira iniciou o ciclo como treinador, mas logo saiu do cargo. Foto: Agence Rio Divulgação

O Brasil viajou para a disputa do Mundial da Lituânia tendo ficado 19 meses sem entrar em quadra. O gelo só foi quebrado no meio deste ano a partir do que todos na modalidade esperavam: a chegada definitiva da CBF na gestão da seleção.

Utilizando toda a estrutura do futebol, a seleção realizou uma ótima preparação nos 30 dias que antecederam a Copa do Mundo Fifa. Foram treinos e mais treinos na Granja Comary e na Arena Carioca antes do embarque para a Europa. No Velho continente, o time realizou quatro amistosos – dois contra a Polônia e dois contra a Sérvia. Uma ótima preparação, tratando-se apenas das partes técnica e física.

Thaís Magalhães

Rodrigo se diverte durante estadia da seleção de futsal na Granja Comary. Foto: Thaís Magalhães

Só que é uma missão bem espinhosa ganhar um Mundial de Futsal fazendo apenas 30 dias de treinamento. Por mais que estes tenham sido feitos da melhor maneira. Uma seleção campeã é formada e trabalhada a longo prazo. Argentina e Portugal estão na final porque foram certeiros nesse sentido. O Brasil poderia ter ganho da Argentina na quarta? Sim! Chances não faltaram. Mas seria uma vitória pautada pelas circunstâncias daquele jogo.

Por tudo o que aconteceu no último ciclo só temos a agradecer e a parabenizar a jogadores e comissão técnica. Todos se doaram ao máximo dentro da estrutura que lhes foi permitida. Ferrão, Pito, Rodrigo, Guitta e Rocha fazem um grande Mundial. Marquinhos Xavier, Reinaldo Simões e demais membros da comissão técnica foram incansáveis em suas funções.

Que o futsal brasileiro aproveite essa nova fase com a CBF no comando e uma inédita prosperidade que se avizinha. Que sejam três anos de muitos jogos, treinamentos e competições com a toda a estrutura que esses atletas merecem. O ciclo de 2024 já começou, e o Brasil depende apenas de si para voltar ao topo.