
Houve um tempo em que o Marreco literalmente entrava em quadra. Em 2008, primeiro ano de atividade da equipe de futsal, Dejanir Krachuski tinha um empenho e tanto para ir ao Ginásio Sarará ver os jogos. Ele e sua esposa, Lurdes, fechavam o bar, que tocam até hoje, na comunidade de Rio Tuna, para ver o time na Cidade Norte. Numa ocasião, ao ver alguns patos e marrecos no açude de um vizinho, considerou levar um deles para dentro do ginásio.
“Fui lá. O vizinho tinha bastante. Daí eu pedi, ‘viu, dá pra eu pegar um pra levar?’. ‘Pode’, ele falou. Levei. No outro jogo, de novo. E o bichinho foi aprendendo. Parece que ele se domesticou”, conta. Durante a semana, a ave voltava para o açude, até um novo compromisso da equipe em casa.
O mascotinho — que nunca ganhou um apelido, era sempre chamado pura e simplesmente de Marreco — marcou os primeiros tempos do clube verde-preto. Dejanir soltava-o dentro da quadra no intervalo ou antes da partida começar, para delírio da torcida. Durante as partidas, a ave ficava na arquibancada e era tietada pela garotada.

Dona Lurdes era a responsável por tratar o bichinho. Ela também gostava de ver os jogos, principalmente para tomar chope. “Lembro muito bem. Tínhamos que pôr o marreco na ‘bolsa’. Chegava lá, ele ficava meio assustado, voava longe. Eu gostava muito.”
A ave caiu no gosto até mesmo da diretoria. O casal se lembra de uma intervenção do então presidente do clube, Neocir Nezze, o “Cipó” (1957-2020), quando tentaram barrar a entrada do mascotinho. “Não me lembro quem, se era do IAP, do Ibama, mas não queriam deixar, porque era maus-tratos. Aí o Cipó interveio, explicou que era bem cuidado e ficou tudo certo.”
Quando o Marreco conquistou a Série Prata de 2008, o marrequinho fez parte da festa, carregado nos braços dos torcedores pelo Ginásio Sarará, levantado no alto como troféu.
Na temporada seguinte, apesar do time ter se transferido para Renascença — pela impossibilidade de jogar no Sarará, danificado após um temporal; e por litígio com a Prefeitura — Dejanir, Lurdes e o mascote continuaram presentes. Foi nesse período que o filho do casal, Márcio, assumiu a presidência do clube.
“A gente se apegou mais ainda. Parece que o Sarará era a casa da gente. Quando nós fomos lá pro Arrudão, era diferente. Parece que tu não tinha aquele aconchego, aquele negócio.
Não era marreco, era pato
Quando seu Dejanir e dona Lurdes levavam a ave para o Ginásio, o Marreco ainda não havia criado rivalidade com o Pato, confronto que geraria o Clássico das Penas — o mais importante do futsal nacional. Aliás, a equipe de Pato Branco foi criada no final de 2010 e o primeiro confronto entre eles se deu apenas em 2012.
O que muita gente não imagina é que o mascotinho vindo do Rio Tuna na realidade não era um marreco, mas um pato. É que o próprio Dejanir revelou. “Ele tinha uma cruzinha de pato. Tinha gente que conhecia o animal e dizia ‘mas Dejanir, isso aqui não é Marreco’” [risos].
Mudança para o Arrudão
Em 2010, quando o Marreco adotou de vez o Arrudão como casa, a ave já estava acostumada à atmosfera de uma partida de futsal. “Era tão mansinho que eu o largava e ele já sabia. Lá no Arrudão, fez um rasante ‘assim’ que todo mundo se levantou pra ver. Saiu do canto e foi lá na tela. Aí, veio pro outro lado e sentou em cima da trave”, relembra Dejanir.
Destino do mascotinho
O destino do marrequinho nunca foi esclarecido. De acordo com os tutores, não se sabe se a ave foi roubada ou se morreu. “Sumiu. Quando fui procurar, não achei mais. Até tentei pegar outro, mas não deu certo”, conta Dejanir. Ele afirma que já teve vontade de repetir a façanha, mas não o fez por receio do ato ser considerado maus-tratos.
Com a ausência do mascote, Dejanir e Lurdes também se distanciaram das arquibancadas. Eles seguem torcendo pelo Marreco, mas preferem acompanhar pelo rádio e TV. “Era difícil a gente perder um jogo. Até o ano passado nós sempre íamos”, relata.
Durante a gestão de Ivo Dolinski na presidência do Marreco, Dejanir foi reconhecido como sócio emérito do clube.
Vida no Rio Tuna
Dejanir tem 72 anos. Nascido e criado no Rio Tuna, conheceu dona Lurdes, companheira de vida há quase meio século — 49 anos, exatamente. Têm dois filhos — além de Márcio, ex-presidente do Marreco, Marciane. Nos anos 1970 e 1980, Dejanir era zagueiro do time da comunidade no Campeonato Varzeano. Ele se orgulha de fazer parte de uma época vitoriosa, quando venceram cinco edições da Segunda Divisão. “Éramos papa-títulos. Ainda num período que a taça mudava de mãos ano a ano, conforme o campeão”, recorda.
O bar da família fica à beira da PR-180, logo após a igreja da comunidade, na margem esquerda da rodovia sentido Dois Vizinhos. O estabelecimento abre de domingo a domingo e só fecha quando os dois precisam se ausentar. A maior parte da clientela é de pessoas de passagem pela rodovia. “Fico em função o dia todo. Faço comida, costuro. A gente não depende tanto disso daqui porque somos aposentados, então quando resolvemos sair, fechamos e nos mandamos mundo afora”, diz dona Lurdes.