
Clair Azzolini Filho já dedicou 15 dos 40 anos aos serviços voluntários nos clubes beltronenses e não nega o “lado torcedor”. Foto: Jornal de Beltrão
Clair Azzolini Filho nunca entrou em campo ou em quadra, mesmo assim é um dos nomes mais importantes do esporte de Francisco Beltrão e região nos últimos 15 anos. Médico formado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com especialização em medicina esportiva, presta serviços voluntários a Marreco, União e até para algumas equipes do Campeonato Varzeano, como o Pinheiros. Beltronense, na infância, Clair morava em frente ao Estádio Anilado. A proximidade com o principal palco do futebol da cidade estimulou a paixão do garoto pelo União. “Na época nem chamavam de Anilado, era o ‘campo do União’. Quando não estudava, ia de manhã e de tarde nos treinos. Via todos os jogos.”
Com 13 anos, resolveu que faria Medicina e Educação Física. Cursar duas faculdades era considerado improvável para os pais e amigos, mas Clair comprovou ser um homem decidido. É bem verdade que a realização completa do sonho levou longos anos. Depois da formação como médico, em 2007, ele concluiu Educação Física no início de 2022.
Preparador-físico do União
Logo na primeira semana como profissional legítimo da área, surgiu o primeiro desafio. Dois dias antes do jogo do União contra o Coritiba, estreia do Azulão em casa no Campeonato Paranaense, o médico foi comunicado que o preparador-físico do clube não poderia trabalhar na partida. A função de realizar o aquecimento do plantel coube ao novato educador físico.
“Me formei na quarta-feira. O preparador-físico positivou para a covid-19 e no domingo fui fazer o aquecimento. Não sei se fiquei ansioso, talvez emocionado. Foi um marco, pois provavelmente não farei isso novamente. Dificilmente um médico assume a função de preparador, né?”
A carreira em Pelotas
Mas o interesse pela medicina esportiva vem desde os 1990, antes de ingressar no ensino superior. Cursando medicina, virou colega do então médico do EC Pelotas. Não demorou muito para que Clair ganhasse seu espaço no “Lobo”. “Lá na cidade tem três clubes: Pelotas, Brasil e Grêmio Farroupilha. Me formei e comecei a trabalhar com esse colega ortopedista. Era estudante, mas ia como médico. Fiz três campeonatos gaúcho.”
Beltrão FC, Marreco e União
A volta para o Sudoeste do Paraná ocorreu em 2007. Foi quando iniciou uma rotina que repete até hoje: Trabalha na rede pública de Saúde e mantém consultório particular. São essas as fontes de renda de Clair que, no entanto, presta serviços aos clubes do município.
Quando chegou, o apoio foi dado ao Francisco Beltrão FC, time de futebol da época. Na mesma época, era fundado o Marreco, que desde então conta com a voluntariedade do médico.
“Eu só não trabalhei pro Marreco em 2009, quando foram para Renascença, e em 2011 não ajudei tanto pessoalmente, mas ajudava on-line. São 15 anos.” No União, ele está desde a reativação do clube, em 2016.
Azuriz
Clair fez parte da comissão-técnica do Azuriz nos dois primeiros anos de existência do clube, em 2018 e 2019. Lá, entretanto, era remunerado. Ainda assim, ele preferiu deixar o time de Marmeleiro por conta da “correria”. “Não sobrevivo da medicina esportiva. Tenho concurso na Prefeitura e sou socorrista do SAMU. Não vou dizer que atuar no esporte seja o meu hobby, pois acho que no futuro é uma das especialidades que mais têm campo. Talvez aqui na região demore ainda para atingir esse patamar, mas quero, pra frente, trabalhar somente com medicina esportiva. Pode ser no próprio União ou no Marreco. Quem sabe no Azuriz, de onde eu sai deixando as portas abertas.”
Clair torcedor
Em meio a tanta dedicação aos clubes de Beltrão, existe a paixão por Marreco e União. E quando está na beira de campo e da quadra, o desafio é controlar o lado torcedor. “Dizem que sou o elo perdido entre torcida e clube. Tem horas que tem que se segurar para não se exaltar, mas eu levo bem. A minha relação com o União, por exemplo, vem desde pequeno, quando eu ia nos vestiários, ainda de madeira, do Anilado. Aprendi a rezar com os jogadores, naquela época.”
Conquistas da carreira
Entre os feitos da carreira, ele elenca, além dos acessos com Azuriz, União e Farroupilha, a participação nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, quando atuou por 18 dias como médico de esportes de rua, como atletismo, ciclismo e triatlo, além da participação na Seleção Brasileira de Esportes Aquáticos.
Para o futuro, ele pretende investir mais no consultório de medicina esportiva que possui em Beltrão. “Minha ideia é aumentar e fazer uma clínica multidisciplinar, que atenda e faça avaliação, reabilitação, nutrição e treino. Isso só existe em cidades maiores. Quero provar aos beltronenses que se você tem uma lesão você conseguirá treinar.”

Clair é torcedor fanático pelo União desde criança. Morador vizinho ao Anilado, ele entrava com o elenco nos jogos. Foto: Arquivo Pessoal