Thais Magalhães

Último jogo da fase de grupos da Copa do Mundo de Futsal da Lituânia: Brasil x Panamá. Foto: Thais Magalhães

Às 15h57 de domingo, a maioria dentro da Arena Klaipeda se levantou para ouvir o hino nacional. Às 17h18, todos dentro da Arena Klaipeda puseram-se de pé para a fábrica de ingredientes do Brasil. Leozinho executou uma lambreta de tirar o fôlego para se esgueirar entre dois zagueiros e enlouquecer a torcida. E se não fosse por uma lambreta, o atacante de 22 anos não estaria nesta Copa do Mundo de Futsal da FIFA Lituânia 2021 ™. Tem mais sobre isso nesta entrevista, além de Leozinho falar sobre corte de cabelo, ser chamado de ‘O Novo Falcão’ e as esperanças de troféu do Brasil.

Qual é a sensação de estar jogando uma Copa do Mundo de Futsal da FIFA?

Eu não quero acordar desse sonho. Minha vida não tem sido fácil e aqui estou eu em uma Copa do Mundo. Para dizer a verdade, tenho dificuldade em entender. Eu não quero entender isso. Estou adorando cada segundo de estar aqui. Cada momento é um sonho. A Copa do Mundo, cara … uau. Eu fico pensando no que minha família está pensando. E saber que sou uma inspiração para inúmeras crianças pobres, significa muito. Essa é uma responsabilidade enorme de se ter, eu sei que tenho que ter cuidado com a forma como me comporto, mas eu abraço. Crianças de origens humildes vivem seus sonhos. Vivi sonhando em emular Ronaldinho Gaúcho ou Falcão. Saber que os pobres meninos sonham em ser o próximo Leozinho me deixa muito orgulhoso e emocionado.

Thaís Magalhães

Brasil x República Tcheca pela Copa do Mundo de Futsal da Lituânia. Foto: Thaís Magalhães

Você jogava futsal ou futebol quando era criança?

Sempre joguei os dois. Na cidade de onde venho, as oportunidades eram escassas. Ouvi tantas promessas – um cara ia me levar para um grande clube do Rio de Janeiro, outro cara ia me levar para outro grande clube do Rio. Toda vez que eu tinha muitas esperanças e toda vez, era sempre uma promessa vazia. A primeira oportunidade genuína que se apresentou foi no futsal, então aceitei. Acho que meu estilo é mais adequado para o futsal. Sei que toda criança sonha em se tornar jogador de futebol, mas o futsal também é muito importante e estou muito feliz por estar aqui.

Essa primeira oportunidade foi quase um pesadelo, certo?

Em 2017, finalmente consegui um julgamento na Magnus. Era para ser um teste para 350 crianças, o que já é muito. Houve um problema no sistema e havia mais de 1.000 crianças lá. ‘Droga’, pensei, ‘acabou’. Na primeira parte, você teve apenas 40 segundos para mostrar o que poderia fazer ou seria cortado. Eu disse a mim mesmo: ‘Certo, você tem que fazer isso acontecer’. Fiz uma lambreta, impressionei, passei para a próxima parte e foi daí.

Thaís Magalhães

Leozinho fazendo o cabelo de um companheiro. Foto: Thaís Magalhães

Já tinha pensado em ser barbeiro antes disso?

Minha primeira e única opção era jogar futebol. Nunca tive um plano B. Mas não podia me dar ao luxo de cortar o cabelo o tempo todo, então comecei a fazer o meu próprio, a tentar coisas novas e me tornei bom nisso. É engraçado você perguntar, porque às vezes acho que meu trabalho aqui é como barbeiro (risos) . Sou parte jogador e parte barbeiro. Todo mundo sempre quer ter uma boa aparência, então os jogadores, toda a delegação me pedem para fazer o cabelo deles. Fico feliz em ajudar. Se eu não fosse um jogador, acho que seria um barbeiro.

Falando em cabelo, soubemos que você apareceu uma vez em um jogo com o cabelo tingido… (risos) Esse é um dia que prefiro esquecer! Foi a nossa estreia no campeonato nacional, que na minha opinião é o melhor campeonato do mundo. Eu era muito jovem e decidi pintar o cabelo, para ficar diferente. Ganhamos, mas eu fui motivo de chacota de toda a equipe! Não tirei bem o visual. Eles realmente zombaram de mim e ainda fazem isso até hoje! Pintei meu cabelo de preto na manhã seguinte, mas eles nunca me deixaram soltar. Quem te contou isso? (risos) ‘Capita’, certo? Bem, você pode dizer isso a ele (risos): Prometi a mim mesmo que, se vencermos a Copa do Mundo, tingirei meu cabelo de novo! E ‘Capita’ vai ter que tirar uma foto comigo!

Como foi marcar na Copa do Mundo de Futsal e ter a torcida de pé com aquela lambreta?

Sonhei com aquele momento toda a minha vida: marcar um gol na Copa do Mundo. Não foi apenas o meu sonho, mas o sonho de toda a minha família e amigos. Foi pura euforia. Saber que minha família estava tão orgulhosa de mim me deixou muito feliz. Isso me motiva. A lambreta, obviamente é muito bom colocar a multidão de pé. Isso me dá energia positiva.

Dar um show para os fãs é importante para você ou vencer é tudo o que importa?

Ganhando. Apenas ganhando. Os truques que eu executo fazem parte do meu jogo. Claro que estou feliz em ver os torcedores se levantando por causa de uma das minhas jogadas, mas posso prometer que se eu fizer uma jogada incrível, mas perdermos, fico muito, muito triste depois.

Qual é a sensação de ser chamado de ‘O novo Falcão’?

Estou feliz e honrado por ser comparado ao maior jogador da história do futsal. Mas procuro ser Leozinho, procuro escrever a minha própria história.

O que você acha do Japão?

Estamos os estudando intensamente. Eles são um lado muito bom. Eles se acomodam, são muito organizados e fortes defensivamente, e têm alguns brasileiros que são excelentes jogadores. Sabemos que qualquer um pode vencer qualquer um, estamos levando este jogo muito a sério, mas ao mesmo tempo estamos muito confiantes.

O Brasil vencerá a Lituânia em 2021?

Sem dúvida. O Brasil entra em todas as competições para se tornar campeão. Qualquer coisa menos é um fracasso para o Brasil. As expectativas são as mais altas possíveis e sabemos que temos que corresponder a elas.

Quem você acha que são os maiores rivais do Brasil pelo título?

Argentina. Eles não têm o sorteio mais fácil, mas eu ainda diria Argentina. São os campeões em título e têm um grande plantel. Brasil x Argentina é o maior clássico do mundo, mas você consegue imaginá-lo em uma Copa do Mundo?