Gerson-Thimothio
Jaime é um dos atingidos

A tragédia ambiental que martiriza o Rio Grande do Sul sensibiliza todo o país. E quem é gaúcho, mas está longe da terra natal, sofre mais. O estado do extremo sul é uma das referências do futsal brasileiro, seja pelos clubes tradicionais — Assoeva, Atlântico, Carlos Barbosa — ou por revelar atletas. Alguns atuam no Sudoeste. É o caso do ala Emerson, da Acel, do goleiro Jaime, do Marreco, e do fixo Rafael Cardoso, do Pato.

Família de Jaime convive com insegurança em Pelotas

Goleiro do Marreco, Jaime é natural de Pelotas, no sul gaúcho. A cidade é banhada pela Lagoa dos Patos, onde o Lago Guaíba, da capital, desemboca. Rafael Almeida, pai do arqueiro, vive entre a cidade natal e Francisco Beltrão. Ele se preparava para vir ao Paraná, quando a chuvarada começou. A residência onde mora, no Bairro Laranjal, não foi “tão atingida, se comparada a outras regiões: um palmo de água e boa parte dos terrenos foram salvos. No entanto, desde então Rafael tem convivido com uma insegurança incessante e tem dormido dentro do carro para não ter o veículo roubado.

“No começo, nossa região não tinha sido atingida. Depois de cinco dias passamos a nos preocupar, pois a água estava descendo pela Lagoa dos Patos, e com muita intensidade. Nunca vi algo do tipo. Mas as pessoas de má-índole, ainda assim, roubam o pouco que restou de muitas famílias, é lastimável. Nossa família está bem, graças a Deus. Na minha casa foi pouca água, comparado aos demais, claro. Porém não tem como abandonar as residências. Nós estamos em alerta porque a enchente pode voltar, e pior. Só quem viveu algo assim pra descrever. É sobre ver e não poder fazer nada. O sentimento de incapacida-de é desolador.”

Rafael Cardoso é fixo e atua no sub-20 do Pato. Ele também é de Pelotas. “Há muita incerteza. As águas subiram bastante na área da Praia do Laranjal e até então foi o lugar mais atingido, mas nada comparado a Porto Alegre. As águas da capital ainda não chegaram a Pelotas, o que deixa a população ainda em alerta. Minha família não está em área de risco, mas como forma de se solidarizar estão fazendo, em média, 160 marmitas por dia para entregar em abrigos da cidade.”

Ídolo da Acel e Marreco estava lá

Maior artilheiro da história do Marreco e ídolo, também, na Acel, atual clube, o ala Emerson estava no Rio Grande quando as enchentes começaram. “Nossa família é de Igrejinha, a 80 quilômetros de Porto Alegre, e a 35 de Gramado. Cheguei de lá na semana anterior. Havíamos ido passear. O Rio Paranhana, que passa por Igrejinha, transbordou e alagou toda a cidade. No meu sogro, onde estávamos, não entrou água, a casa dele é alta, mas alguns tios e amigos perderam tudo. Água até o teto de casa”, relata.

Para regressar a Chopinzinho, Emerson veio através do litoral, aumentando em 18 horas a viagem. Era a única forma segura de voltar e cumprir os compromissos profissionais na Acel. “Pessoas perderam tudo, morreram. Um cenário de destruição numa cidade que amamos”, lamenta.

Ex-Marreco faz solidária

O fixo Kauê Araújo saiu do Foz Cataratas. Ele jogou pelo Marreco entre 2018 e 19. Natural de Nova Santa Rita, município a 75 quilômetros de Porto Alegre, que foi bastante afetado, o atleta e o irmão, o também jogador de futsal Marlon, estão orga-nizando uma rifa solidária. O número custa R$ 5 e dá direito a concorrer a três camisas: da Seleção Brasileira, Assoeva e El Pozo Murcia (ESP). Todo o valor será revertido para Nova Santa Rita.

“Atualmente estou em Carlos Barbosa, na Serra, que também foi afetada. A situação está bem complicada, principalmente na região metropolitana. Minha cidade natal está pratica-mente ilhada e muitos amigos meus foram atingidos e perderam suas casas”, diz.
Kauê está preocupado com o frio, que torna ainda mais sofrido o momento para desabrigados que estão em alojamentos.

Por outro lado, ele ressalta a união das pessoas, que colaboram da forma que conseguem, seja com donativos, dinheiro ou tempo.