A trajetória do fixo Leco no futsal é um pouco diferente do mais comum para a maioria dos atletas. Em uma modalidade na qual troca-se de clube a todo momento, ele jogou em apenas dois na carreira: Joinville e Jaraguá, sua equipe atual.

Com um perfil de liderança e muita dedicação e entrega dentro de quadra, Leco conseguiu algo ainda mais improvável no futsal. Ele se tornou ídolo dos torcedores dos dois times que mantêm uma das maiores rivalidade no mundo.

“Fico muito feliz com isso. Vou para Joinville e na rua ainda tenho esse carinho e respeito da torcida. Foram anos de muita luta até a tão sonhada conquista da LNF. O torcedor reconhece isso. Sempre fui muito profissional e nunca me envolvi em polêmicas relacionado ao clássico Jaraguá e Joinville. Ter participado de tantas conquistas importantes em ambos lados ajuda muito”, disse ao UOL.

Aos 39 anos, Leco construiu uma linda carreira nos dois rivais. Chegou ao Jaraguá em 2000, onde permaneceu até o fim de 2010. Depois, foram dez temporadas no Joinville, para então retornar ao time de sua cidade natal, no fim de 2020.

Juntando as duas equipes, são incontáveis títulos. Entre eles, cinco Ligas Nacionais, seis Libertadores, muitas Taças Brasil, Campeonatos Catarinenses e vários outros.

“Felizmente eu conquistei meu espaço dentro do Jaraguá e do Joinville, sendo reconhecido e valorizado como deveria em cada renovação de contrato. Isso fez eu criar identificação com os clubes, que era algo que eu sempre admirei como torcedor, ainda criança”, explicou.

“Sempre gostei desse negócio de vestir a camisa, defender o clube e lutar junto pelos objetivos da equipe. Mas essa relação intensa se constrói com tempo e eu escolhi estar nesses projetos ambiciosos abdicando de propostas até melhores em alguns momentos. Dinheiro nunca foi o principal fator nas minhas decisões. Tenho um senso de gratidão muito forte, os dois clubes me deram muitas oportunidades”, falou.

Lucas Pavin
Leco defendendo o Jaraguá

Construtor e investidor

Se dentro de quadra a função principal de Leco é destruir os ataques adversários, fora dela o negócio do jogador é construir.

Já são mais de dez anos atuando no ramo da construção civil, no qual ele pretende se manter quando encerrar a carreira.

“Tive a sorte de ser bem influenciado por grandes pessoas. Convivi com o Chico (ex-jogador) por mais de 10 anos como parceiro de quarto. Sempre conversávamos sobre negócios e a necessidade de arrumar algo para fazer após encerrar minha carreira. Tenho a construtora há 11 anos, entre muitas ideias mirabolantes foi o ramo que eu escolhi para empreender”, contou ele.

Leco acredita que esse tipo de investimento é fundamental para os atletas de futsal. Ele, inclusive, tenta influenciar os companheiros nesse sentido.

“Sempre digo que o futsal no Brasil só deixou um milionário e o restante vai ter que se virar no pós-carreira. É importante ter um planejamento. Se for empreender, penso que deve se aventurar ainda enquanto joga, pois se der errado, e as chances são grandes, ainda vai ter tempo de recuperar a grana jogando futsal. A construtora deve ser minha principal profissão após parar de jogar. Sempre que visualizar oportunidade, vou tentar arrastar os atletas para o negócio, como já fiz e faço com alguns mais próximos.”

Além da construção, Leco também investiu nos últimos anos em uma rede de açaís ao lado irmão, o ex-jogador Junai. Ambos decidiram vender a parte deles neste ano, ainda com lucro, segundo o próprio atleta.

Lucas Pavin
Leco é o capitão e líder da equipe

Função na “política” do futsal

Leco não é “apenas” jogador, construtor e investidor. Ele ainda tem uma outra função muito importante voltada ao futsal: a de presidente da ABAFS (Associação Brasileira de Atletas de Futsal).

Ele explica um pouco dos objetivos da entidade e da importância desse movimento.

“A ABAFS quer ser um centro de apoio aos atletas, ajudar no desenvolvimento da modalidade, mas também no desenvolvimento pessoal do atleta com auxílio sobre educação financeira, apoio por profissionais de psicologia, fisioterapia, médico e também parceiros estratégicos como instituições profissionalizantes que preparem o atleta para o pós-carreira”, explicou.

“Temos inúmeras pautas para abordar, mas sempre pensando no bem da modalidade e usando bom senso nas decisões. Penso que estamos cumprindo o papel que é de plantar uma semente. O futsal precisa de diálogo para evoluir e não vejo isso acontecer, pelo contrário, é um pra cada lado toda hora. Por meio da ABAFS, estamos tentando promover situações que levem a esse diálogo.”

Entretanto, na visão dele, ainda falta muito para se chegar em uma unidade no futsal. E, na visão do presidente Leco, os atletas também são culpados.

“Infelizmente, mesmo com toda a diplomacia e intenção de fazer o bem, algumas pessoas, dirigentes principalmente, nos olham com desconfiança e articulam para dissuadir nossa força. Mas nada do que não imaginávamos, pois sabemos exatamente as fragilidades do futsal. Muito amadorismo, pessoas sem capacitação para as funções estratégicas na modalidade e a velha oligarquia”, criticou.

“Temos potencial para sermos dez vezes maiores, mas não temos mostrado competência para isso e incluo aí os atletas também. Hoje a ABAFS tem dificuldade na adesão de filiados, não temos nem 30% dos atletas que jogam a LNF. Todos os atletas são revoltados com o ‘sistema futsal’, mas poucos se engajam em algo para tentar mudar. Temos atletas acomodados, atletas egoistas, atletas descrentes e atletas que simplesmente estão alheios e ignoram o fato de que instituições precisam funcionar para haver evolução. Somente sentados no vestiário reclamando não vamos mudar nada”, completou.