O sobrenome é italiano. A carreira foi construída quase toda na “Velha Bota”. A seleção que ele defendeu era a Azurra. Mas o brasileiro Adriano Foglia, de 33 anos, se orgulha de ter começado sua trajetória no país natal e de ter “ralado” até ser reconhecido pelo seu talento exibido nos jogos de futsal.
Eleito melhor jogador do mundo em 2003, um ano antes de Falcão, Foglia contou ao GloboEsporte.com como foi sua mudança para Itália aos 17 anos, a carreira fora do Brasil e como começou a ser conhecido no país após os títulos conquistados em 2014 com o Brasil Kirin.
Foglia começou a jogar futsal no tradicional Juventus (SP). Após rodar por alguns clubes, chegou ao Palmeiras em 2000. Ali, teve passagens pelas categorias infanto-juvenil e juvenil, até ser chamado para alguns jogos no time principal. Foi em uma dessas partidas, contra a Wimpro, de Guarulhos, que a vida da jovem promessa do futsal começou a mudar.
“O presidente e um vice-presidente de um clube da Itália, chamado Augusta, foram ao jogo e procuraram na lista de jogadores quem tinha sobrenome italiano, e eu tinha. Então eles procuraram uma mulher que fazia documentos pra descendentes de italianos e conseguiram meu contato. Na época eu não tinha telefone em casa, então eles conseguiram o número do orelhão da rua e quando tocou algum vizinho me chamou e marcamos uma reunião”, lembra.
De origem simples, o jogador precisou se virar para chegar na Itália. Sem muitas roupas e sem conhecer o idioma, Foglia precisou da ajuda do avô para chegar bem vestido à Europa.
“Alguns amigos e a família sabem da minha história. Saí do Brasil com uma sacola de roupa, porque eu não tinha muita roupa, vim de um lugar meio difícil. E foi engraçado porque na época meu avô Nequinha era vivo e ele tinha um bar. Eu fui lá e pedi uma calça social e uma camisa emprestada pra chegar à Itália. Eu via na televisão jogadores de futebol chegando assim e quis chegar do mesmo jeito”.
CARREIRA NA EUROPA
Foram 15 anos de carreira na Europa. Alguns problemas com o idioma, a naturalização, boas recordações, títulos individuais e coletivos. Atuando pela seleção italiana Foglia foi eleito o melhor jogador de futsal do mundo em 2003, ano em que conquistou o europeu de seleções. O pivô também foi vice-campeão mundial pela Itália, em 2004.
“ Minha carreira na Europa só me dá orgulho, porque, apesar das coisas que eu passei, das dificuldades, aprendi muita coisa, como morar sozinho. Tive alguns títulos, fui melhor jogador do mundo. Tenho orgulho da minha carreira lá, tenho proposta pra voltar pra Itália, mas agora eu prefiro ficar aqui no Brasil, e só tenho a agradecer ao Sorocaba que apostou em mim”.
GORDINHO ZOEIRO
Com problemas de peso desde o início da carreira, Foglia fala sobre o assunto com naturalidade e até faz brincadeiras relacionados à balança. Na final da Liga Nacional da temporada passada, o ítalo-brasileiro marcou o gol que deu o título ao Sorocaba. Após a partida desabafou e admitiu que, mesmo acima do peso, fazia a diferença.
“Sempre tive um pouco de problema com o peso, mas meu biotipo é assim. Eu uso muito a força para jogar e algumas pessoas não entendem, mas é normal ter críticas e elogios. Aquela declaração é porque eu tinha que extravasar, mas me segurei e fui mais calmo. Eu tive que comemorar porque foi um gol espírita, como alguns falam. Realmente eu tava muito gordo, eu tinha uma lesão de 5 cm no adutor, e muita gente não sabe. Todo jogo eu tomava uma ou duas infiltrações para jogar, e estava sendo usado muito pouco. Aí eu dei a declaração de que eu sempre tinha feito gol em Uberlândia, mas era mentira, porque eu nunca joguei lá. Muitas quadras aqui do Brasil eu nunca joguei, mas eu tenho a mania de falar que sempre fiz gol, e sempre dava certo. Esse ano já não tá dando certo, porque eu não to fazendo muito gol”.
Além de fama de gordinho, o estilo de Foglia chama a atenção. Com tatuagens espalhadas pelo corpo e comportamento dentro de quadra diferente da maioria dos atletas, o pivô ganhou a fama de bad-boy.
“Não sou um bad-boy, sou brincalhão. Aceito brincadeira, me xingam de gordo, de batatinha, mas isso pra mim é motivo de orgulho. Eles sabem que eu tenho um jeito meio esquisito, porque quando é para falar sério eu falo, e sou até um pouco grosso. Eu também não deixo eles em paz, fico puxando o cabelo, dou soco e fazem as mesmas coisas comigo”.
Matéria extraída do site Globo Esporte.com