Leto Ribas
Roncaglio com a taça de campeão do mundo no Uzbequistão. | Foto: Leto Ribas

Entre as histórias que construíram a campanha do Brasil rumo ao hexacampeonato mundial de futsal, está a de Diego Roncaglio, o goleiro que “pagou” para defender a seleção no Uzbequistão.

Tudo começou quando o atleta de 36 anos não foi liberado pelo seu clube para se apresentar à equipe nacional antes do Mundial. Diante da encruzilhada, o jogador tomou uma decisão difícil, mas, como ele mesmo diz, que valeu a pena. Pagou a multa rescisória, encerrou o vínculo com o Anderlecht, da Bélgica, e foi realizar o sonho de infância: estar na Copa do Mundo. Assim, fez parte da seleção que conquistou a sexta estrela do Brasil nas quadras em 6 de outubro.

Depois da aventura na Ásia Central, o goleiro veio para Blumenau, sua terra natal, e faz treinamentos individuais para manter o condicionamento físico. Em conversa com Zero Hora, ele antecipou que voltará a atuar no Brasil em 2025. Por enquanto, prefere não revelar qual será o próximo clube. O retorno ocorre após 10 temporadas na Europa, onde passou pelo Kairat, do Cazaquistão, Benfica, de Portugal, e, claro, o Anderlecht.

Antes disso, no entanto, ele defenderá a amarelinha mais uma vez. Na terça-feira (22), o goleiro foi convocado para representar o Brasil na Liga Evolução, promovida pela Conmebol. A competição ocorre de 6 a 10 de novembro, no Ceará, e tem como objetivo principal dar espaço a novos talentos da modalidade. Ronclaglio foi um dos poucos experientes a serem chamados para compor o grupo, formado na maioria por jovens. Leia, abaixo, a entrevista completa e exclusiva de ZH com Diego Roncaglio.

Valeu a pena pagar a multa rescisória e abrir mão dos salários do último ano de contrato com o Anderlecht para jogar a Copa do Mundo?

Total. Não me arrependo nem um pouco. Foi a melhor escolha que eu fiz para a minha carreira. Ganhei o título mais importante que um atleta que um atleta de futsal pode ter. Disputar a Copa era o meu maior sonho.

O que te marcou na campanha do Brasil rumo ao título do Mundial, no Uzbequistão?

O que eu mais notei foi algo que geralmente as pessoas dizem que o Brasil não tem: união. O pessoal costuma falar que o Brasil é um time de estrelas, muito individual. Nessa Copa, a gente provou justamente o contrário. A nossa união fez com que a qualidade individual aparecesse. Em qualquer reunião na Copa e até antes da competição, o assunto era a defesa. O que ganha campeonato é a defesa. Não adianta você fazer cinco gols e tomar seis. Quando o time brasileiro se une, é muito difícil ganhar da gente. O que ganha campeonato é a defesa. Não adianta você fazer cinco gols e tomar seis.

Como foi a convivência com os teus companheiros de posição? O Guitta era o mais experiente do grupo e o Willian foi o melhor goleiro da Copa.

O Guitta e eu temos uma amizade mais longa, de família, de frequentar a casa um do outro. Conseguia conversar com ele sobre tudo durante a Copa. O Willian, eu conheci basicamente na pré-Copa. É um cara sensacional. Um cara do bem. Foi fácil conviver com esses caras e dar todo o suporte que o titular iria precisar. O Willian foi quem jogou mais e teve grandes atuações.

O Marquinhos Xavier é uma referência para o Rio Grande do Sul. Foi multicampeão pela ACBF, de Carlos Barbosa. Como foi trabalhar com ele na seleção?

É um excelente treinador. Um cara muito sensato, sério, correto. Sempre confiou em mim. Foi o primeiro treinador a me levar para a seleção, em 2019. Nesse ciclo de preparação, fui o segundo mais convocado, se não me engano.

Foram 10 temporadas na Europa. O que o futsal de lá tem de diferente do nosso?

É uma diferença bem grande. O Brasil evoluiu muito em termos de organização, mas as ligas lá fora são muito boas nesse quesito. São países pequenos, talvez seja mais fácil organizar. Em Portugal, era um jogo por semana. Na Bélgica, os jogos eram todas as sextas-feiras. Não existia outra data para jogar. Você já sabia quando ia jogar, quando ia treinar. 

No Brasil, os jogos ainda são mais físicos, mais disputados. Na Europa, são mais táticos. Porém, os brasileiros ainda tem larga vantagem na parte técnica individual. Não é à toa que é um grande exportador de talentos.

A Europa paga mais que o Brasil?

Aqui no Brasil temos quatro ou cinco times que pagam muito bem. A nossa moeda ainda está muito desvalorizada em relação ao Euro. Não é difícil o salário (de lá) compensar. O custo de vida também é mais baixo. Em alguns casos, você ganha casa, carro, água, luz, ou seja, não precisa arcar com despesas de casa. Não são todos que pagam isso, mas são muitos. Sem falar na qualidade de vida, tem escolas gratuitas, seguras, por exemplo.

Até quando você pretende levar a carreira?

Ainda me sinto muito bem fisicamente para jogar em alto nível. Acredito que possa jogar mais uns três ou quatro anos. Mas depende de como as coisas forem evoluindo.

Pretende voltar a Europa?

Quero voltar, mas não é o momento. Passei por momentos bem delicados nos últimos anos na Bélgica. Minha mãe teve câncer, e eu estava longe. Me deixou um pouco para baixo. Isso nos deixa reflexivo. O Brasil tem seus problemas, mas é maravilhoso. Quero mostrar para o meu filho (que tem sete anos) como é viver no Brasil.