Há 36 anos, a reviravolta nos rumos do futsal aconteceu a partir de uma briga que terminou em acordo entre dois brasileiros. João Havelange, então presidente da Fifa, e Januário D’Alessio, mandatário da antiga Federação Internacional de Futebol de Salão (Fifusa), reuniram-se para pôr fim à disputa pelo controle da modalidade. Selaram com aperto de mãos e assinaturas de documentos o acordo que deixou com a entidade controladora do futebol os destinos do futsal a partir daquele 1988.
Na época, a Fifusa tinha organizado três edições do antigo Mundial de Futebol de Salão, o nome original do esporte, criado na década de 50, no Rio de Janeiro. O Brasil venceu a de estreia, em 1982, derrotando o Paraguai por 1 a 0, na final disputada em São Paulo. Conseguiu o bicampeonato em 1985, em Madri, batendo a Espanha por 3 a 1. Três anos depois, um choque: a seleção brasileira terminou em segundo lugar na edição de 1988, na Austrália, onde a derrota para o Paraguai por 2 a 1 encerrou a invencibilidade de 31 anos (957 jogos) dos “Reis da Bola Pesada”.
Com a Fifa no comando, muita coisa mudou. Inclusive a bola (hoje, mais leve e maior), as regras, o tamanho da quadra e até o nome do esporte e da competição. O futebol de salão virou futsal, nome mais curto e internacional.
Da primeira edição do Mundial da “era Fifa”, em 1989, na Holanda, até a décima, encerrada no último domingo, no Uzbequistão, país asiático escolhido como sede, o Brasil ergueu o troféu de campeão seis vezes: 1989, 1992, 1996, 2008, 2012 e 2024. Depois de 12 de jejum, ser hexacampeão se tornou muito mais difícil pela expansão do esporte pelo mundo.
– Foram 121 países disputando as eliminatórias continentais em busca de um lugar na fase final da Copa do Mundo de Futsal 2024 aqui no Uzbequistão. Esta edição foi a melhor de todas desde a de 2000, na Guatemala, o período em que estou envolvido. Nós temos evoluído em muitos aspectos: organização, promoção, a preparação das seleções, o envolvimento com nossos parceiros do mundo inteiro – avaliou o espanhol Jaime Yarza, diretor de Torneios da Fifa, em entrevista ao Lance! desde Tashkent, a cidade que sediou a final do último domingo (6), quando o Brasil venceu a Argentina por 2 a 1.
Yarza trabalhou nas últimas sete edições da Copa do Mundo de Futsal da Fifa e se tornou conhecido na modalidade desde os tempos da liga espanhola. O trabalho dele pelo crescimento do futsal é reconhecido mundialmente. Mesmo com as profundas mudanças na governança da Fifa após o escândalo do Fifagate. Com a chegada do suíço Gianni Infantino à presidência, o espanhol Yarza não só se manteve como vem crescendo de importância na hierarquia da organização de torneios da entidade.
– É claro que sempre existe espaço para melhorias, e vamos discutir isso no debriefing pós-competição, mas temos recebido elogios das seleções pela qualidade dos serviços que oferecemos – acrescentou o dirigente, ao Lance!
O legado deixado para países em desenvolvimento no futsal é tão importante para Yarza quanto as condições proporcionadas às seleções para desempenhar em quadra o melhor jogo.
– O Uzbequistão tem dois novos ginásios para a prática do futsal e que fazem parte do legado desta Copa do Mundo, com piso, iluminação e infraestrutura especialmente desenhados para o futsal. Temos um piso removível, que foi instalado na Humo Arena, em Tashkent. Pode ser instalado em outros locais do país, dependendo das necessidades da federação local, que tem interesse em organizar outros torneios internacionais de futsal a partir do sucesso desta Copa do Mundo. E ainda há outros dez pisos usados para os treinos das seleções que também serão deixados aqui e que vão beneficiar a comunidade esportiva do país – contou Yarza.
O dirigente defende que a mensagem mais positiva deixada pela Copa do Mundo no Uzbequistão é o fato de o futsal ter um futuro brilhante pela frente, vencendo os altos e baixos comuns em todos os esportes. Formar potências capazes de desafiar favoritos, como Brasil, Argentina, Espanha e Portugal, já se mostrou um trabalho de resultados positivos no Uzbequistão.
– O futsal está crescendo muito. Os resultados desta edição da Copa do Mundo mostraram um incrível desenvolvimento do futsal em muitos países. Não é mais um torneio de apenas duas equipes disputando o título, como no passado. Nós vimos vários times surpreendendo, e favoritos (Espanha e Portugal) sendo eliminados cedo. Tivemos a estreante França, que chegou às semifinais e com potencial para se tornar um gigante. A Holanda, há 25 anos, não era forte como agora. A Ucrânia apresentou evolução impressionante também na parte técnica, nas habilidades, além da física. Nós buscamos colocar o futsal no lugar onde ele realmente merecer estar no cenário esportivo e criar novas potências – encerrou Yarza.