Era só mais um dia de treino. Como nos dez anos anteriores, o adolescente Pedro Rei chegou à Gávea para treinar com os juvenis do Flamengo quando foi surpreendido por uma triste notícia. Sem um motivo oficial, o habilidoso e promissor atacante estava dispensado da base do Rubro-negro. Pedro, de 15 anos, jogava no clube desde os cinco, e atuava ao lado de jogadores que viriam a ser aproveitados no profissional como Tomás, Frauches e Negueba. Por alguns instantes, o sonho de se tornar profissional deu lugar à incerteza. Anos depois, porém, a revelação da Liga Nacional de Futsal (LNF) olha para trás e usa a própria história de vida para buscar inspiração para alçar voos ainda mais altos no futsal.
– Estou com 22 anos e ainda tenho muito pela frente. Fiquei feliz em ser eleito a revelação da LNF e espero que isso seja o ponto de partida para uma carreira de muito mais sucesso. Como todo jogador de grande clube, eu sonho em chegar à seleção. Quem sabe isso acontece já no ano que vem – afirmou Pedro, que disputou a temporada pelo Umuarama, tendo marcado 18 gols na LNF e 22 no Campeonato Paranaense.
Nascido na bairro de Piedade, subúrbio do Rio, Pedro chegou ao Flamengo com apenas cinco anos de idade. Na Gávea, deu os seus primeiros passos no futsal até transferir-se para o futebol de campo aos dez anos. Artilheiro em todas as categorias, sonhava com uma carreira vitoriosa no profissional quando foi surpreendido pela notícia da dispensa em 2008. Sem receber qualquer justificativa do seu novo treinador, Pedro acredita que o porte físico franzino tenha sido o motivo do seu desligamento.
– O problema aconteceu quando mudou a comissão técnica do juvenil do Flamengo. O novo treinador mandou me avisar que eu não seria aproveitado. Não chegaram sequer a conversar comigo. Foi uma grande decepção. Nunca me falaram o motivo oficial da dispensa, mas, extraoficialmente, fiquei sabendo que fui dispensado porque me achavam muito franzino para o futebol – contou.
Fora do Flamengo, Pedro logo recebeu propostas. O Vasco foi o primeiro clube que acolheu o jogador, dando-lhe uma oportunidade na sua equipe juvenil de futsal. Nos meses seguintes, Pedro ainda teve passagens por Portuguesa-RJ e Piedade antes de ser chamado para voltar aos gramados em 2009. O destino agora era as Laranjeiras. No Tricolor, o jogador viveu mais uma vez o drama da dispensa.
– Fui chamado inicialmente para o futsal do Fluminense, mas a proposta previa ir para o campo caso eu fosse bem nas quadras. Não deu outra. Em 2010 estava jogando ao lado de vários atletas que subiram para o profissional do Flu, como o Marcos Júnior e o Rafinha. Fui campeão da Copa BMG em 2010. Em 2011, joguei o Carioca sub-20. Só que eu me machuquei e fiquei um tempo parado. Daí quando mudou a diretoria, eu acabei dispensado mais uma vez – lembrou.
A segunda dispensa na curta carreira fez Pedro pensar em desistir de ser atleta. Com 18 anos, ele voltou a se concentrar nos estudos, almejando cursar Educação Física. Foi quando ele resolveu aceitar um convite para atuar no sub-20 de futsal do Botafogo. A partir de então, sua carreira tomou um novo rumo.
– Meus primeiros meses no Botafogo foram tão bons que fui chamado para jogar no time adulto, mesmo com idade de júnior. Fui campeão carioca em 2011 e, no ano seguinte, fui contratado pelo Petrópolis, onde eu finalmente me firmei – destacou o jogador.
As boas atuações no Petrópolis renderam a Pedro uma proposta para jogar no Umuarama em 2013. Com possibilidade de atuar na LNF, ele não pensou duas vezes antes de se transferir para o time do interior paranaense. Em sua terceira temporada no Paraná, Pedro chegou ao auge ao destacar-se na LNF desde ano, mesmo com a eliminação da sua equipe na segunda fase.
– Acho que o que atrapalhou o nosso time nessa Liga foi o calendário. Como o Campeonato Paranaense é muito forte, jogávamos muitas vezes num curto espaço de tempo e isso nos desgastava. Mas fica o aprendizado para o ano que vem – afirmou.
Vice-campeão paranaense no último fim de semana – o Umuarama perdeu para o Guarapuava por 2 a 1, e o rival ficou com o título -, Pedro ainda não sabe se continua no Paraná no próximo ano. Com propostas de outras equipes, ele afirma que ainda não decidiu o seu futuro.
– Pode ser que eu saia, mas pode ser que não. Estou muito feliz aqui. O que quero é continuar buscando o meu espaço no futsal – finalizou.
Notícia: Flávio Dilascio/GloboEsporte.com
Imagens: Divulgação/ Arquivo Pessoal