O Brasil já venceu a disputa da Libertadores da América de Futsal 18 vezes. A ACBF, de Carlos Barbosa, que ficou com vice-campeonato em 2021, é a maior campeã com seis conquistas (2002, 2003, 2010, 2011 e 2017 a 2019), junto do Jaraguá (SC) com seis. Atlântico, de Erechim (2014) e Inter (2000), também venceram.

Só a fato de dois clubes brasileiros chegarem a uma decisão da competição continental já é relevante. Não é inédito porque já aconteceu três vezes. Em 2000 o Internacional derrotou o Vasco na final, em 2001 o Banespa superou o Carlos Barbosa e em 2018 o Carlos Barbosa bateu o próprio Joinville para ficar com o título. 

Mas, Cascavel Futsal e Joinville tem muitos elementos que deixam a final deste domingo (28), na Venezuela, ainda mais apimentada. São dois tricolores, um paranaense e outro catarinense, que tem uma relação conturbada nos bastidores. Não chega a ser conflituosa, mas o sentimento de ingratidão talvez ainda fere o torcedor do Cascavel. 

O pivô dessa história é o técnico Cassiano Klein. Depois de ter um acordo com a diretoria de que ficaria na Serpente por, pelo menos, mais uma temporada ele surpreendeu ao anunciar no fim do ano passado que tinha aceito um convite para comandar o Joinville em 2023. Profissionalmente, a escolha do treinador é natural, mas pelo momento do Cascavel e da ligação com ele ficou, especialmente na torcida e na diretoria, a sensação de que ele teria traído o time cascavelense. 

Chamado de “Guardiola do Futsal”, apelido que ele ganhou do torcedor cascavelense depois da conquista de dois títulos da Série Ouro, da histórica Liga Nacional e Libertadores de 2022, Cassiano provocou uma leve “racha” no grupo antes da saída, entre aqueles que defendiam a ida e outros que não gostaram da atitude do treinador. Isso ficou perceptível nos treinos que antecederam a final da Série Ouro contra o Chopinzinho e o primeiro jogo da decisão em casa, vencida pelos visitantes. Sem querer tirar o mérito da ACEL, que fez por merecer o troféu de campeão, o Cascavel foi inferior a tudo que já tinha feito naquela temporada. 

Se soma a tudo isso o fato de Cassiano Klein ainda ter feito o convite para tirar peças fundamentais do Cascavel para trabalhar com ele em Santa Catarina. Jogadores que, inclusive, estavam com contrato renovado com a Cobra. O capitão Ernani foi um deles. Antes de saber da notícia sobre a ida de Cassiano, o discurso dele era de “fechado com o Cascavel”, de que tinha gostado da cidade e não tinha possibilidade de mudança. Outros jogadores que seguiram os passos do professor foram Gabriel Gurgel e Kevin. 

Para aumentar esse sentimento de que um novo estilo de jogo do Cascavel estava sendo criado em um time que dentro da modalidade já tem um respeito grande há muito tempo, o pivô Roni e o ala Rafinha, campeões com o Tricolor paranaense em 2021, mas que já estavam em outros clubes, anunciaram acordo com o Joinville. Por último, com a temporada em andamento, ainda chegou o goleiro Deivd, ex-Cascavel. 

Em contrapartida, outros nomes importantes do elenco se fecharam e permaneceram com o desejo de manter o Cascavel forte e competitivo. Membros da comissão técnica, como os preparadores físico, Rapha Martins, e de goleiros, Roberto Melo, também mantiveram seus contratos depois de serem sondados. A vinda de Lucas Chioro, que chegou antes da saída de Cassiano Klein, que abriu os treinos da Serpente para um processo inédito e louvável de transição, aumentou o desejo de um padrão de jogo semelhante, com mais alternativas ainda.

Fato é que esse será o primeiro encontro entre as peças principais dessa história e justamente na disputa de um título. De um lado o Cascavel de Lucas Chioro, de outro um “meio Cascavel” chamado Joinville, de Cassiano Klein. As duas equipes não tiveram moleza para chegar até a final da Libertadores da América de Futsal. O Joinville teve até pressão de uma partida com pênaltis e prorrogação nas quartas de final contra o Panta Walon-PERU, que coincidentemente foi o único time que conseguiu roubar pontos do Cascavel, com um empate na 1ª fase. 

A final da Libertadores entre Cascavel e Joinville estava escrita e era muito provável antes da competição continental começar. Neste domingo (28), às 19h, fica a expectativa de um confronto com padrões parecidos e que envolvem bastidores que pouco conhecemos. O Cascavel Futsal busca o bicampeonato depois de erguer o troféu de 2022. O Joinville nunca venceu o torneio. Favorito? Difícil dizer, mas quem ganha é futsal brasileiro, que com essa final já sabe que novamente terá dois representantes na edição de 2024.