
Por mais que não exista nenhuma comprovação genética, o amor pelo esporte é algo que pode estar no “sangue” de muitas famílias. São inúmeros os casos de filhos que seguem o caminho dos pais e ganham o mundo por suas modalidades. Entretanto, poucas vezes são lembrados os casos menos populares, aqueles que estão “escondidos” no Interior e que não tem o mesmo reconhecimento.
Nesta véspera do Dia dos Pais, é possível lembrar de Bernardinho e Bruninho, no vôlei, Martine Grael e Torben Grael, na vela, assim como os diferentes casos do futebol, tal qual Rafinha e Thiago Alcântara, filhos do tetracampeão mundial Mazinho. Mas, no futsal, Sandyco e Luciano também são personagens especiais.
Diferentemente dos citados anteriormente, a dupla não é conhecida do grande público, mas carrega uma história do tamanho das principais conquistas do esporte brasileiro. E é em Catuípe, na Região Noroeste do Estado, que pai e filho realizam o sonho de jogarem juntos.
Imprevisto mudou tudo
Sanderson Almeida de Oliveira, o Sandyco, tem 41 anos e atua como motorista de aplicativo. Desde a juventude, conciliou as quadras com os diferentes trabalhos que já teve. O amor pelo futebol foi passado ao filho, Luciano Bento de Oliveira, de 19 anos, que hoje é soldador.
Morando em Ijuí, pai e filho viajam semanalmente à cidade vizinha, Catuípe, para jogar pelo Catuípe Futsal, que disputa a Série C do Gauchão de Futsal. O que poucos sabem é que a união dos dois em quadra aconteceu após episódios tristes na vida de Sandyco.
Em outubro de 2021, ele ficou cerca de 20 dias na UTI com covid-19. Luciano, que estava na base do Monsoon, em Porto Alegre, voltou para Ijuí para ficar próximo do pai. Após a internação, o goleiro ainda lidou com depressão e crises de ansiedade que o afastaram do esporte. Mesmo assim, a motivação de Luciano foi o suficiente para Sandyco voltar a fazer o que mais ama.
— Eu estava internado na UTI com o covid. Tinha parado de jogar antes disso já. Mas meu filho sempre pedia: “pai, eu gostaria de jogar com o senhor ainda profissionalmente” — revelou, e ainda lembrou que tinha receios de retornar às quadras pela idade:
— Eu dizia que já estava aposentado e ele falava: “Não não, o senhor vai jogar ainda. Só o senhor querer” — revela.
Lado a lado

No fim das contas, Sandyco quis voltar e foi convidado para defender o Ijuí Futsal. Na sequência, foi chamado pelo Catuípe e, aos poucos, retomou a felicidade que não era preenchida há um bom tempo.
Já Luciano, que jogou futebol na base de Monsoon, Ypiranga e São Luiz, migrou para o futsal e defendeu o Cerro Largo Futsal no começo do ano, time do Gauchão Série A. Ao saber que seria pai, voltou para Ijuí. Prontamente, ele viu na volta a chance de atuar junto do maior ídolo.
— Sabe aquela inspiração que o cara olha e tem que mostrar orgulho? Eu sinto isso, acho que ele também deve sentir a mesma coisa. E para mim convencer ele nunca foi difícil, porque ele é apaixonado por futsal — disse Luciano, que joga como ala.
Em Catuípe, os dois treinam quatro dias na semana fora as datas de jogos. Nesta temporada, a equipe está na terceira colocação do Grupo B com seis pontos. Em cinco jogos, são duas vitórias e três derrotas. Entre os quatro primeiros da chave, o time está classificando para as quartas de final.
Relação nas quadras

Tanto Sandyco quanto Luciano reconhecem que a relação entre eles é diferente no futsal. A cobrança nas quadras não é menor por se tratar de um pai e um filho, mas o amor e o carinho seguem intactos.
— Estamos jogando juntos, pai e filho. Ele me ajudou bastante para sair da depressão. E estamos jogando em alto nível. Agora estamos realizando esse sonho de jogar os dois juntos, lado a lado, no mesmo time — diz Sandyco, orgulhoso de jogar ao lado de Luciano.
O filho, que ainda sonha em viver só do esporte, reforça que a cobrança do pai nos treinos e jogos é importante para a evolução dele enquanto atleta. O jovem ainda lembra que se sente muito feliz em jogar com quem mais o inspira.
— É uma sensação boa, extraordinária. Ele é uma pessoa que sempre me motivou, que eu me inspiro bastante, que eu vejo como referência e tenho a sensação de que devo dar orgulho para ele. Afinal, ele praticamente me deu tudo que eu tenho até hoje e sempre me apoiou. Ele é meu pai, eu tenho orgulho de dizer que ele é meu pai — concluiu Luciano.