Um movimento natural na infância, mas que também acontece na fase adulta. Migrar do futsal para o futebol é sempre um desafio, visto que, apesar das semelhanças, os esportes apresentam as suas diferenças, principalmente com relação ao espaço e ao tempo.

Athletico-PR
Leozinho foi anunciado pelo Furacão em janeiro deste ano. | Foto: Athletico-PR

Entre os nomes mais lembrados estão Falcão, que defendeu o São Paulo em 2005, e Manoel Tobias, que atuou no Grêmio, em 1996.

Recentemente, o nome que se destaca e possui relação com as duas modalidades é Leozinho. Ala nas quadras, o jogador de 26 anos foi para os gramados em 2022. Como atacante, defendeu Hercílio Luz (SC) e Ituano (SP) antes de ser anunciado pelo Athletico-PR, em janeiro deste ano.

A aposta da diretoria do Furacão ainda não surtiu o efeito esperado. O atleta tem poucos minutos dentro de campo e ainda busca espaço no elenco de Odair Hellmann. Nesta semana, ele fez um desabafo nas redes sociais sobre os obstáculos para quem sonha em jogar futebol.

“Sair da sua zona de conforto/realidade por um sonho. Lidar com preconceitos, desconfianças da sua capacidade pela sua origem, a maioria permanecendo contra. Enfim, muitas barreiras a serem quebradas”, escreveu o jogador.

Destaque nas quadras

Guilherme Mansueto
Leozinho teve começo promissor nas quadras, mas deixou o Magnus por problemas extraquadra. | Foto: Guilherme Mansueto

Apesar de curta, a passagem de Leozinho no futsal foi meteórica. No Magnus, tornou-se profissional em 2017. Em 2019 e 2020 foi eleito o melhor jogador jovem do mundo. Já no ano seguinte, fez parte da seleção brasileira que ficou com a terceira colocação na Copa do Mundo da modalidade, na Lituânia.

Dentro de quadra, o jogador teve grande destaque pelos dribles e pela capacidade de desequilibrar as partidas. Entretanto, o relacionamento do jogador com companheiros não era dos mais favoráveis. Em 2022, ele teve o contrato rescindido pelo Magnus após algumas desavenças com o técnico Ricardinho. Pouco tempo depois, anunciou que iria jogar futebol.

Sem muitas oportunidades até aqui

A chegada de Leozinho no Athletico-PR surpreendeu, principalmente pelo fato de que o atleta não havia se firmado nos gramados. Mesmo assim, em um primeiro momento, a contratação teve apoio do torcedor.

— A primeira reação da torcida foi de suspeita. O cara era muito bom no futsal, mas no campo… Mas de modo geral, teve aceitação — revelou Daniel Piva, jornalista do Globo Esporte Paraná.

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Leozinho só conseguiu ser titular em uma das 14 partidas que disputou. | Foto: Athletico-PR

Apesar da certa empolgação, o atleta ainda não teve muitos minutos dentro de campo. Até aqui, disputou 14 jogos pela equipe, marcou um gol e foi titular em apenas uma partida. Ele ainda não jogou 90 minutos pelo Furacão.

— Agora, com o tempo, fica meio que um jogador que não conseguiu se firmar. Mas também para ser justo, não teve tantas oportunidades assim, não teve sequências no time titular. Na própria Série B tem poucos minutos dentro de campo — completou Daniel Piva.

Além dele, o repórter do Globo Esporte Paraná Flávio Darin é outro que concorda que o jogador ainda não mostrou o suficiente pela falta de oportunidades em campo. Mesmo assim, ele lembra que o início no clube foi promissor:

— No Campeonato Paranaense, ainda sob o comando de Maurício Barbieri, teve poucas oportunidades. Chegou a marcar um gol, deixou uma impressão positiva e um gostinho de quero mais por parte da torcida.

Habilidade indiscutível

É inegável que Leozinho tem qualidade. Atuando pelo lado direito do campo, que favorece dribles com o pé esquerdo, ele busca fazer a diferença com um estilo de jogo mais rebuscado.

— A famosa “pisada” e jogadas de mano a mano próximos a linha lateral são um trunfo do Leozinho. Nesse quesito, ele tem mais acertos do que erros. Conseguiu criar boas jogadas e possibilidades para os companheiros. Com Odair Hellmann, Leozinho seguiu tendo poucas oportunidades, mas sempre que jogou levantou a torcida. Não se omite do jogo e inegavelmente tenta lances diferentes — lembrou Darin.

Piva também concorda com a diferença técnica do atleta dentro do elenco. Mesmo assim, ele ainda acha que Leozinho não atingiu o seu melhor no futebol.

— Embora o Athletico-PR faça um ano decepcionante até aqui, você consegue perceber que o Leozinho, tecnicamente, é um dos atletas que mais consegue entregar. Só que é um outro estilo de jogo, é um atleta que está tentando encontrar o seu melhor no futebol de campo. 

A falta de adaptação no campo

Entre os principais fatores que dificultam a passagem, Leozinho teve uma lesão no púbis que o afastou por mais de um mês. Além disso, o jogador parece ainda não ter se adaptado aos gramados.

— Ele tem suas limitações táticas e físicas. Na tática, a questão principalmente sem bola. Na parte física, embora esteja a mais de dois anos no futebol de campo, não sei se já está totalmente adaptado, porque vai precisar correr mais, o espaço é diferente, o tempo para você agir é diferente — disse Daniel Piva, que ainda lembra a dificuldade do jogador em atuar em gramados de pouca qualidade.

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O único gol de Leozinho foi marcado em seu terceiro jogo, contra o São Joseense pelo Campeonato Paranaense. | Foto: Athletico-PR

Além das dificuldades de espaço e de atitudes sem bola, o jogador também apresenta deficiências em lances de longa distância, como explica Flávio Darin:

— Tenho a impressão que o Leozinho só se sente à vontade na faixa lateral direita do campo. Fora disso, parece um peixe fora d’água. É um jogador que apresenta deficiências na finalização de meia e longa distância e me parece ter dificuldade para executar uma virada de jogo, uma bola longa. Talvez em outros momentos o Athletico-PR seria capaz de dar um suporte maior a esse atleta, e o entregar a profissionais que poderiam desenvolve-lo para extrair o seu melhor.

Desde a chegada de Odair Hellmann ao Furacão, em maio, Leozinho foi relacionado para 11 jogos, atuando em cinco. O último deles foi no dia 22 de julho, o empate em 1 a 1 contra a Ferroviária. Ele atuou por 14 minutos.