O Jaraguá terminou a primeira fase da Liga Nacional na quinta posição, com 42 pontos. E a torcida teve um papel fundamental para esse ótimo desempenho. A equipe teve, disparado, a melhor média de público da competição, com 3.187 pessoas por partida. Como comparação, o Esporte Futuro, segundo colocado na lista, levou 1.807 torcedores por jogo.

No público total, foram 38.244 pessoas nos 12 jogos como mandante. Quase o dobro dos 21.287 do rival Joinville, que vem logo atrás (fez um jogo a mais em casa do que o Esporte Futuro, por isso a diferença).

São números extraordinários e até inimagináveis para um time que há cerca de seis anos esteve muito perto de fechar as portas e chegou a pedir ajuda publicamente aos torcedores e apoiadores para conseguir se manter vivo.

A glória e a queda

Com Falcão como grande estrela e patrocínio da Malwee, o Jaraguá se tornou um dos maiores times do mundo nos anos 2000. Até 2010, foram quatro troféus da Liga Nacional, seis Taças Brasil, seis Libertadores e inúmeros outros títulos.

Entretanto, com o término da parceira, no fim daquele ano, o cenário mudou e foi piorando após cada temporada. Os problemas financeiros se tornaram cada vez maiores, e a dívida se tornou milionária. Até que, entre 2016 e 2017, o Jaraguá não deixou de existir por muito pouco.

“Entramos em 2017 com praticamente R$ 2 milhões em dívidas e a vaga na Liga penhorada. A dívida foi grande, com ordens de despejo, aluguéis atrasados, salários atrasados, fornecedores atrasados, uma série de situações muito complicadas. Na época, as notícias eram muito negativas sobre o Jaraguá Futsal. Eram muitas dívidas. A gente batia nas empresas e ninguém queria saber do Jaraguá Futsal”, lembra Márcio Hafemann, que ficou na presidência do Jaraguá entre 2017 e 2021. Hoje, ele é o gestor de futsal da equipe.

A reconstrução

Márcio nasceu em Jaraguá do Sul e é torcedor fanático do Jaraguá Futsal desde adolescente. Quando viu a situação na qual o time se encontrava, encarou o desafio de assumir a presidência para tentar reerguê-lo.

“Tive o respaldo de pessoas corretas ao meu lado, que me ajudaram muito nesse desafio. Eu não fiz nada sozinho, foi toda a diretoria. Conseguimos buscar os valores devidos, que era muita coisa. Primeiro passo foi estancar a dívida e começar a negociar. Estamos terminando de pagar os atletas de 2016 neste ano. As famílias foram sensacionais, aceitaram receber por mês”, explicou. O primeiro passo foi manter o Jaraguá vivo.

“A torcida abraçou o time na época. Fomos transparentes, nosso planejamento era ficar de três a quatro anos para quitar as dívidas. E praticamente conseguimos, entre 2017 e 2021, pagamos quase R$ 2 milhões em dívidas, deixamos um valor bem interessante pra sequência da gestão”, lembrou.

A organização financeira gradual também foi possibilitando novas formas de obtenção de recursos. Em parceria com patrocinadores e parceiros, e com apoio da Prefeitura e da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer da cidade, o Jaraguá Futsal foi se reconstruindo.

Time vive estabilidade atualmente

O Jaraguá Futsal se tornou um exemplo de reconstrução e reorganização financeira. “Não existe torcedor mais apaixonado que o nosso torcedor. Estamos com quase 600 sócios ativos, que colaboram mensalmente com o time e têm vários benefícios. O sócio-torcedor é um grande patrocinador. Com certeza conseguimos um resgate muito grande e muito importante. Nossa organizada, a Barra Independente, se mobiliza, se programa a semana toda, eles fazem o que for para arrecadar fundos, acompanhar o time”, explicou Márcio.

Gratidão no retorno do ídolo

Poucas pessoas conhecem melhor sobre o Jaraguá Futsal do que o fixo Leco. Natural da cidade, ele fez parte do time multicampeão dos anos 2000. Foram mais de dez temporadas defendendo a equipe. O ídolo do Jaraguá também faz questão de exaltar o papel dos torcedores na volta por cima do Jaraguá.

“Sabíamos que o torcedor iria voltar em peso para a Arena Jaraguá assim que a equipe desse os primeiros sinais dentro da quadra. Isso aconteceu já no primeiro ano (2021) dessa retomada com o título do campeonato catarinense em cima do maior rival do Jaraguá (Joinville), em uma situação em que ninguém, além de nós, acreditava que era possível vencer”, lembrou ele.

“A atmosfera que nosso torcedor cria na Arena Jaraguá é algo de arrepiar e nos faz muito mais fortes dentro de quadra. Essa média de público é a confirmação que estamos no caminho certo e o torcedor sabe que está construindo.”