No dia 18 de novembro de 2012, Falcão marcava um dos gols da vitória por 3 a 2 do Brasil sobre a Espanha, na Tailândia, e anunciava: aquela era a sua despedida de Mundiais. Na época com 35 anos, o eterno camisa 12 não imaginava que estaria jogando em alto nível aos 39. Ingredientes não faltavam para que aquele fosse o seu último aceno na competição mais importante do futsal. Mesmo lesionado e com uma paralisia facial no rosto, o ala teve participação decisiva na conquista do heptacampeonato mundial brasileiro. Os anos se passaram, Falcão seguiu jogando em alto nível, e o camisa 12 acabou voltando atrás em sua decisão de não jogar mais uma Copa do Mundo. Prestes a disputar o seu quinto Mundial, o craque conversou com o GloboEsporte.com sobre o seu momento, expectativas para o torneio na Colômbia, crise no futsal brasileiro, relembrando também o drama vivido na Tailândia, quando atuou no sacrifício na dramática conquista verde-amarela.

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Com metade do rosto paralisado, Falcão comemora gol contra a Argentina em 2012

– Em algum momento eu queria ficar com aquela história de 2012, mas sou movido a desafios. Deus me deu o privilégio de estar jogando em alto nível aos 39 anos, então me perguntei por que não jogar mais uma Copa do Mundo? A última teve uma história bacana, mas eu joguei apenas 27 ou 28 minutos, então agora eu quero desfrutar, jogar todos os jogos e quem sabe continuar fazendo história – afirmou Falcão, campeão mundial com a seleção brasileira em 2008 e 2012, vice em 2000 e terceiro lugar em 2004.

A Copa do Mundo Fifa 2016 acontece entre 10 de setembro e 1º de outubro, na Colômbia. O Brasil está no grupo D, ao lado de Ucrânia, Austrália e Moçambique. A estreia será no dia 11, às 20h (de Brasília). contra os ucranianos, em Bucaramanga. O SporTV transmite a partida ao vivo.

AFP

Falcão beija a taça do Mundial de Futsal: seu segundo caneco da competição mais nobre do futsal

GloboEsporte.com: Como vai ser pra você retornar a um Mundial quatro anos depois das fortes emoções vividas na Tailândia? Acha que vai passar um filme do drama que você viveu lá, como o quase corte por lesão e a paralisia facial?

Falcão: Estou bem focado. Esse ano eu joguei o mínimo possível com dois focos, que era o Mundial de Clubes (em junho, conquistado por sua equipe, o Sorocaba) e a Copa do Mundo. Hoje eu me encontro na minha melhor forma física nos últimos anos e para isso venho treinando muito bem, tanto é que eu mesmo tenho me surpreendido com a força física que estou. Claro, tudo dentro da limitação de um cara de 39 anos. Em algum momento eu queria ficar com aquela história de 2012, mas sou movido a desafios. Deus me deu o privilégio de estar jogando em alto nível aos 39 anos, então me perguntei por que não jogar mais uma Copa do Mundo? A última teve uma história bacana, mas eu joguei apenas 27 ou 28 minutos, então agora eu quero desfrutar, jogar todos os jogos e quem sabe continuar fazendo história.

Esse é o seu ultimo Mundial mesmo que você continue jogando em alto nível depois dos 40?

Com certeza, né? (risos). Estou com 39 anos e vou estar com 43 no próximo e é provável que eu já tenha parado de jogar. Então é seguro dizer que esse é o meu último Mundial.

Como você pretende minimizar a sua longevidade nessa Copa do Mundo? Está preparado para jogar a maior parte das partidas ou deve entrar apenas em alguns momentos?

No Mundial, você joga e tem de dois a três dias de recuperação. É o que eu preciso. Até porque a intensidade dos treinos aqui está equivalente aos jogos e eu tenho treinado normalmente com a equipe. Então eu não quero dosar não, quero jogar normalmente e aproveitar esse Mundial o máximo possível.

O futsal brasileiro teve um ciclo conturbado desde o último Mundial. Por conta dos problemas financeiros e políticos da CBFS, a seleção ficou muito tempo sem jogar e teve poucos testes de nível. Você acha que mesmo com todos os problemas enfrentados nos últimos quatro anos, o Brasil chega para essa Copa do Mundo como favorito ao título?

Se você for pegar as últimas Copas do Mundo, a seleção sempre teve algum tipo de problema, e a gente sempre acabou deixando para treinar nos últimos 20 dias. Acredito que tanto para 2008 quanto para 2012, a seleção principal não conseguiu se reunir antes desse período pré-Mundial. Acompanhando o dia a dia aqui em Francisco Beltrão (cidade paranaense onde a seleção faz a sua preparação) e o que o Serginho tem feito nesses dias de trabalho com os jogadores, me deixa muito animado quanto às nossas possibilidade. Acho que somos um dos favoritos sim.

Luis Domingues/CBFS

Falcão cuida da parte física em Francisco Beltrão: boa forma aos 39

Quem seriam os maiores adversários do Brasil?
Acredito que sempre Brasil, Espanha e Rússia são os maiores favoritos ao título. Essas são as seleções mais preparadas para ganhar, mas vão brigar por fora Irã, Itália, Argentina e Portugal. Pode ser que tenha outra surpresa também, até mesmo a Colômbia que joga em casa. Se eles focarem em competir e usarem a torcida a favor eles podem dar trabalho.

O Brasil vai enfrentar Ucrânia, Moçambique e Austrália na primeira fase. O que você sabe sobre esses adversários? É possível que o Brasil seja surpreendido por algum deles?

A Ucrânia nós enfrentamos em 2004, na primeira fase, e em 2008 também. Digo que foi o nosso melhor jogo de 2008, e eu acho que a Ucrânia deve ser a seleção que vá se classificar com a gente na chave. Eles fizeram um amistoso com a Itália essa semana e perderam por 2 a 0, com o resultado definido no final. Austrália e Moçambique não acredito que nos darão muito problema. Temos que tomar cuidado no nosso primeiro confronto, que é contra a Ucrânia, mas acredito que sejamos favoritos nas três partidas da primeira fase.

O que você achou do grupo de jogadores convocados pelo Serginho? Você faria alguma alteração na lista final?

Lista é sempre muito pessoal. Se você perguntar para dez pessoas quem seriam os seus convocados, talvez ninguém repita os 14 nomes. O Serginho usou os critérios dele, e isso tem que ser respeitado. É claro que poderiam ter outros jogadores, mas ele foi na vontade dele e nos treinamentos aqui eu vejo que ele não errou, pois a seleção está muito bem encaixada, com todo mundo treinando bem.

O que está achando do reforço do Marcos Sorato (Pipoca) no banco de reservas (o treinador campeão mundial em 2012 assumiu recentemente o cargo de auxiliar)? Muda muito na rotina de vocês?

A escolha do Marcos Sorato foi a mais acertada possível. Ele vem de duas Copas do Mundo, 2008 ele foi auxiliar do PC, e 2012 ele foi treinador. É um cara que acumulou experiências diferentes e vem justamente para fazer o que sabe, porque Copa do Mundo é uma competição diferente. O Serginho tem dado toda a liberdade para ele, e os dois estão trabalhando juntos, então é como se não tivéssemos treinador e auxiliar e sim dois treinadores. Isso, com certeza, vem fazendo a diferença no nosso dia a dia.

Luis Domingues/CBFS

Craque tem 366 gols com a camisa da seleção brasileira

Você mantém a ideia de jogar nos Estados Unidos mesmo? Quando você iria para lá?

A liga lá começa em 2018, e a Magnus (patrocinadora do Sorocaba) deixou bem encaminhada a renovação do projeto do time por mais cinco anos e, à princípio, eles têm o interesse de me oferecer um contrato por mais cinco anos. Independente de um jogar mais dois ou três anos, a coisa está bem encaminhada e na volta nós vamos conversar. Se correr tudo certo, permaneço em Sorocaba, que é um planejamento de vida meu, e aí descartaria totalmente os Estados Unidos.

No ano passado, o português Ricardinho ganhou o prêmio de melhor do mundo da Futsal Planet. Você mesmo chegou a elogiá-lo publicamente. Você o colocaria como favorito à Bola de Ouro da Fifa, prêmio dado ao melhor do Mundial?

O Mundial é um campeonato muito particular. Depende de até onde a sua seleção vai, do número de gols que você fez…Com certeza o Ricardinho é um dos candidatos à Bola de Ouro, assim como alguém do Brasil também pode se destacar. No último Mundial, quem é que pensava no Neto como vencedor? É por isso que eu digo que é uma coisa muito particular.