Era o mês de fevereiro e, em São Paulo, dirigentes da LNF e todos os representantes dos clubes discutiam os assuntos pendentes para a edição de número 25 da competição e o que seria possível projetar diante dessa marca. Ninguém poderia imaginar que, presencialmente, aquele foi o primeiro e último encontro no ano. Trinta dias depois, o primeiro brasileiro era vítima da covid-19. Hoje, o número se aproxima de 200 mil vidas perdidas para uma doença que paralisou o planeta. A LNF, os clubes, atletas, comissões técnicas, patrocinadores, imprensa e público sofreram as consequências das inevitáveis modificações impostas pela doença. Um cenário totalmente atípico precisou ser pensado em meio a ondas diárias de incertezas. Mesmo assim, em 2020, a LNF conseguiu manter a 25ª edição e sublinhou o caráter histórico da competição mais disputada do futsal mundial.
Novos integrantes e incertezas no caminho
Brasília, Umuarama e Praia Clube foram as novidades para a temporada, passando a 21 o número de participantes na competição. O acréscimo de um integrante abriu a possibilidade de que todas as equipes jogassem o mesmo número de jogos dentro e fora de casa: 10 partidas. A primeira fase seria disputada em turno único com início para 27 de março, com os playoffs para setembro e a final em dezembro. Sem dar trégua, porém, a pandemia alastrava-se com velocidade pelos quatro cantos do Brasil e do mundo. O início da competição foi adiado e os meses seguintes foram de bola parada e muita movimentação on-line nos bastidores e, com os clubes passando a viver uma nova realidade.
Pré-temporada no início da pandemia
Com os principais estados impondo medidas de distanciamento social, os clubes passaram a se reinventar. A pré-temporada já havia sido feita no início do ano e uma nova paralização sempre traz prejuízos. A maneira encontrada foi inovar nos treinamentos à distância.
“Nós, do Pato, adotamos um plano semanal de treinamento, onde os trabalhos de fisioterapia, de mobilidade, funcional, assim como os trabalhos de preparação física, são enviados semanalmente para todos os nossos grupos”, disse o preparador físico da equipe, Serginho Santana.
“Não tem sido fácil. É preciso trabalhar o psicológico todos os dias para seguirmos aplicados e com vontade de treinar. A obrigação é sua, consigo mesmo. Temos toda assessoria da comissão técnica e isso tem sido muito importante para tentarmos voltar na melhor forma, ao mesmo tempo, também vamos nos redescobrindo neste momento”, completou o fixo Ciço, do time bicampeão da LNF.
LNF Games e a emoção diante da telinha
Se nas quadras havia a frustração pela parada no calendário, ela foi amenizada por uma competição virtual de vídeo game, com o FIFA 20 para PlayStation 4. O LNF Games mobilizou a torcida por cada um dos representantes dos 21 clubes. Um campeonato de vídeo game que teve a participação de João Barreto da TV NSports, Fred dos Desimpedidos, Billy do BR Futsal, dentre outras personalidades da modalidade e, de alguma maneira, devolveu a emoção para quem pode acompanhar o torneio.
O grande vencedor foi o ala Zazá, do Praia Clube. Ele começou a competição jogando com a Seleção da França, derrotou Felipinho, do Joaçaba, e precisou trocar de time para encarar o adversário que também jogava com o time francês na grande final. O jogador resolveu então escolher quem tivesse as cores da equipe de Uberlândia, o Brasil.
“Fiz em homenagem ao uniforme do Praia, veio na minha cabeça. Fui para cima do Filipinho. Estudei os jogos dele, que é excelente jogador. Graças a Deus fui bem nas minhas táticas” comemorou.
Amigos da LNF na onda da solidariedade
Em parceria com TV NSports e apoio da Umbro, a LNF criou o Amigos da LNF. A iniciativa, além de dar destaque a modalidade, teve como objetivo aproximar o torcedor dos clubes em um momento em que não era possível ir aos ginásios, o que para a realidade do futsal brasileiro teve impactos financeiros significativos.
“Com o distanciamento social, o torcedor está fora do clube e distante dos atletas. A ideia do fundo é promover o futsal e reaproximar o torcedor do seu clube”, afirmou na época o diretor de marketing da LNF, Alexandre Rollin.
“Acreditamos que a geração de conteúdo digital, que sempre foi o coração da parceria TV NSports e LNF, é a melhor forma de aproximar os fãs dos atletas nesse momento, e a criatividade para trazer novos modelos é fundamental” afirmou Guilherme Figueiredo, diretor executivo da TV NSports.
A garantia de assistir pela primeira vez todos os jogos da LNF animou os torcedores que tiveram duas formas de participar. A primeira, no valor de R$ 150 (R$ 100 para o clube e R$ 50 para um fundo de promoção do futsal) e a outra por R$ 75 (R$ 25 para o clube e R$ 50 para o fundo).
Ao final da campanha com a participação de todas as torcidas, a maior mobilização foi do torcedor do Pato com a aquisição de 919 pacotes colocando R$16.710 nos cofres do clube. No total, o Amigos da LNF, que contou com estímulos de jogadores brasileiros jogando no exterior inclusive, vendeu 7.280 pacotes arrecadando R$131.000.
Todos os jogos transmitidos ao vivo
No ano em que completou 25 anos de existência, a LNF ampliou ainda mais o seu vínculo com o fã do futsal. Em 2020, além das transmissões em TV aberta e canal fechado, a LNFTV, canal de streaming da Liga, garantiu 100% dos jogos transmitidos.
Na primeira fase, a LNFTV transmitiu 115 partidas, o SporTV e a TV Brasil, 11. Nos Playoffs, a LNFTV pôde transmitir mais 11 jogos, enquanto o SporTV fez 19, e a TV Brasil mais 8.
No geral, todo o território brasileiro foi atingido em todas as plataformas nos 156 jogos da competição que ganhou visibilidade como nunca em sua história.
Regionalização forçada e protocolo seguido à risca
Desde as primeiras conversas com a pandemia em curso, a LNF decidiu que a prioridade seria organizar a competição dentro dos limites possíveis, sem abrir mão da responsabilidade com todos os envolvidos em uma partida.
Um dos primeiros passou foi a alteração no formato tradicional da Liga a partir da definição da data do início do torneio em agosto. Foram 3 grupos de 7 clubes que jogaram entre si, dentro do próprio grupo. Os classificados para os Playoffs seguiriam a mesma fórmula dos anos anteriores da competição. E claro, todos os jogos da temporada não tiveram a presença de público.
Com base nas decisões divulgadas pela CBF e CBFS, além de seguir orientações dos profissionais da saúde, a Liga Nacional de Futsal definiu o seu “Protocolo de Jogo – COVID-19”. Fruto de um trabalho multidisciplinar, o documento priorizava: Distanciamento Social; Medidas de Higienização; Ajustes e Sanitização dos Ambientes; constante atualização das informações preventivas e status da COVID-19 em cada clube; e Utilização de EPIS, sendo obrigatório o uso de máscaras faciais por todos os envolvidos durante todo o período de convivência.
Treinos adaptados e a espera pela volta da bola rolar
Definido o novo cenário, os times aos poucos tentavam retomar a normalidade. Com medidas diferentes em cada estado ou cidade, nem todos tiveram a mesma capacidade de preparação. Foram meses de reinvenções.
“A palavra de ordem na nossa equipe foi inovação. Contando com envolvimento de todas as áreas e com diversos profissionais, conseguimos ter criatividade, dar dinamismo e variedade em nossos treinamentos. Realizamos a manutenção física e técnica, além de manter a saúde mental dos jogadores com uma série de palestras”, analisou na época o preparador físico Mauro Sandri, do Magnus. O futuro campeão da LNF 2020 inovou também com atividades de integração.
“Realizar quase cem atividades online, seja aberta ao público ou fechada para monitoramento interno, exigiu que todos os envolvidos se reinventassem em suas profissões, até mesmo descobrindo novas competências para que toda essa demanda fosse feita da melhor forma possível”, concluiu Mauro.
Magnus domina as estatísticas
Foram marcados 730 gols nos 156 jogos da LNF 2020, média de 4,7 por jogo. Falar desta edição sem falar nos números impressionantes do Magnus, em praticamente todos os quesitos, é tarefa impossível. Então é melhor citar primeiro quais outras equipes ou atletas também se destacaram na competição.
Neto, liderança da campanha do Praia Clube, foi quem mais desarmou: 307 vezes. Willian, goleiro do Joinville, foi quem mais defendeu, impedindo 202 oportunidades de seu time ser vazado. O Jaraguá, que disputou apenas a primeira fase, terminou com a melhor defesa com apenas 27 gols sofridos.
No quesito disciplinar, O Brasília levou o Troféu Fair Play, enquanto Paulo Felipe, do Marreco, foi o único atleta a receber dois cartões vermelhos na competição. Por aqui, já inicia a lista do time que levantou a taça ao final da temporada: Rodrigo foi quem mais recebeu amarelos: 13 no total, e seu parceiro Leandro Lino, liderou com 26 a estatística de faltas cometidas.
Do resto, o Magnus papou praticamente tudo: artilheiro foi Rodrigo com 15 gols, Danilo Baron liderou as assistências com 9, o time teve o melhor ataque com 75 gols e terminou como melhor mandante e melhor visitante com 10 e 7 vitórias respectivamente.
Seleção da LNF
Os treinadores, de cada um dos 21 clubes participantes do campeonato, escolheram os três atletas por posição, ficando a cargo da votação popular a eleição do melhor. O Magnus teve três nomes vitoriosos, enquanto Corinthians e Joinville, dois.
Técnico: Ricardinho (Magnus)
Goleiro: Willian (Joinville)
Fixo: Rodrigo (Magnus)
Ala direito: Murilo (Corinthians)
Ala esquerdo: Leozinho (Magnus)
Pivô: Dieguinho (Joinville)
Revelação: Guilhermão (Corinthians)
“Agradeço a Deus, a todos que votaram em mim e principalmente aos meus companheiros. Sempre foi um sonho disputar a LNF ao lado de grandes craques. Para mim é uma honra ter sido eleito a revelação esse ano”, foi o recado de Guilhermão após a eleição.
Campeão invicto
Ainda que regionalizada e sem enfrentar todos os outros 20 postulantes ao título, os números da campanha que levaram o Magnus ao bicampeonato da LNF impedem qualquer tipo de reparo ao desempenho dentro de quadra do time sorocabano, e em uma quadra na cidade vizinha, Votorantim. Como seu ginásio serviu de hospital de campanha para as vítimas do coronavírus, os comandados de Ricardinho jamais jogaram, de fato, em casa.
Após incríveis 100% de aproveitamento na primeira fase, a equipe encontrou mais dificuldades nos confrontos eliminatórios contra Campo Mourão, Cascavel e Tubarão, até reencontrar o Corinthians na grande final. Depois de um equilibrado empate em 1 a 1 na capital paulista, o título perdido para o mesmo rival anos antes, voltou para Sorocaba.
“Nós entramos para a história. Não perdemos um jogo e fomos campeões invictos. Um jogo sequer não perdemos”, lembrou o emocionado treinador durante a festa. Título, que é o terceiro da carreira do paulistano de 43 anos. Como jogador, Ricardinho conquistou a LNF em 2011 com o Santos e em 2014 com o Brasil Kirin, que hoje é o Magnus.
Missão cumprida
Prevista para começar em março, mas sendo iniciada somente em agosto, a LNF precisou ser “encaixada” praticamente na metade do tempo em que seria disputada para terminar ainda em 2020. Um desafio de elaboração de um calendário apertadíssimo e à mercê de situações que fogem do controle absoluto, por mais cuidados que fossem tomados. Poucas partidas tiveram de ser adiadas em virtude de casos de Covid-19, os clubes foram comprometidos com o protocolo estabelecido e como sempre, apenas um levantou a taça, embora em 2020 a sensação possa ter sido de vitória para o restante também.
Parceiros antigos e novos
Para a temporada 2021, a LNF tem renovada a parceria com marcas que há algum tempo estampam as quadras Brasil à fora: Umbro, Cresol e Krona mantiveram os compromissos ao longo da temporada e estão firmes para o ano que vem. Juntaram-se a eles novos parceiros: Patriani e Unicesumar, que apostaram na valorização da competição em um ano de recessão, mas também de novas oportunidades.
Meio milhão de seguidores nas redes sociais
Num ano em que muitas pessoas se viram obrigadas a desbravar o mundo das redes sociais para divulgar seu negócio e/ou se manterem informadas, os canais de comunicação da LNF se mostraram ainda mais importantes para levar conteúdo do melhor futsal do planeta ao maior número de pessoas possível.
Produzir conteúdo em diferentes plataformas não é tarefa fácil e, na LNF, todo dia tem (muitas) informações novas sendo compartilhadas. A Liga está presente no LinkedIn, Twitter, YouTube, Facebook, Instagram e, para se manter atualizada nas tendências, também está presente no TikTok.
Somadas todas essas redes sociais, o número de seguidores, que começou em janeiro de 2020 com 446 mil, hoje passa dos 500 mil e cresce diariamente. O desafio para o próximo ano está em fazer com que o público siga engajado com os materiais produzidos e compartilhados pela Liga, além de se adaptar as atualizações e necessidades de cada plataforma para que a experiência ao consumir o conteúdo seja cada vez melhor.
Abaixo os números que apontam o crescimento das redes sociais da LNF em 2020.
Facebook: 235.983 -> 244.532 Crescimento de 3,6%
Instagram: 176.408 -> 219.519 Crescimento de 24%
Twitter: 14.222 -> 17.047 Crescimento de 19%
YouTube: 19.100 -> 26.700 Crescimento de 39,7%
LinkedIn: 98 -> 166 Crescimento de 69,3%
TikTok: 0 -> 1.782 Criada em dezembro desse ano
Até a próxima
Dirigentes dos clubes, comissões técnicas, jogadores, funcionários de clubes, patrocinadores, staffs dos ginásios, veículos de imprensa e torcida – que esperamos estarem de volta com a chegada da vacina – a todos os envolvidos na LNF, o desafio está lançado para 2021. Repetir o sucesso da edição histórica e adaptada de 2020. Feliz Ano Novo!