O ginásio do Quintana, na Guabiroba, se acostumou a receber um visitante ilustre toda quinta-feira. Logo depois de um grupo de boleiros de peso, entre 20h30 e 21h30 era possível assistir a um jogador acima da média em quadra. Passes precisos, marcação eficiente, e um faro de gol típico de um atleta profissional. Foi assim, em jogos entre amigos, que Sinoê manteve a forma física durante os dez meses que ficou afastado de competições oficiais. Impedido de atuar por questões contratuais envolvendo uma equipe do Japão, ele encontrou na família forças para se manter firme por aqui, do outro lado do mundo.

Adolfo Pegoraro

Sinoê durante a vitória do Marreco contra o Corinthians. Foto: Adolfo Pegoraro

Passados os inconvenientes, em abril Sinoê estava finalmente liberado. Contrato assinado e casa nova. Um recomeço muito especial em Francisco Beltrão, no Paraná. Aos 33 anos, o pivô passou a vestir a camisa 33 do Marreco Futsal. Em 34 jogos, já anotou 26 gols. O último foi contra o Corinthians, na primeira partida das quartas da Liga Nacional de Futsal, no dia 12. No mesmo jogo ele ainda deu uma ssistência, cavou um pênalti e mandou duas bolas na trave. Vitória por 6 a 4. No jogo de volta, neste sábado (28), deu Timão no tempo normal, mas o Marreco garantiu a vaga inédita na semifinal após vencer por 1 a 0 na prorrogação.

O bom momento no Paraná levou Sinoê – ou “Sinômito”, como é chamado pela torcida local – de volta à Seleção Brasileira. Ele não vestia a amarelinha desde 2015. Mais uma grande retomada na carreira. Em três partidas, marcou duas vezes: uma no desafio internacional e outra contra o Equador na Liga Sul-Americana 2017, disputada na Colombia e vencida pelo Brasil.

Ricardo Artifon

Sinoê veste a 10 da seleção contra o Uruguai. Foto: Ricardo Artifon

Muita estrada e muita estrela

Se o presente é de sucesso, o passado foi de muito esforço. Natural do Capão do Leão, Sinoê foi um habitual artilheiro da Taça Zona Sul de Futsal no início dos anos 2000, defendendo a terra natal e também a seleção de Cangaçu. As várias atuações de luxo lhe renderam a disputa do Estadual Série Bronze de 2005 por Salto do Jacuí. Um ano mais tarde, vestindo a camisa do UCPel, foi campeão da Série Prata junto com outros grandes jogadores, como Binho, Roger, Kaká e Gustavo. A conquista garantiu uma vaga na elite do futsal gaúcho para o time da Universidade Católica. “Tudo isso contribuiu muito para o que sou hoje. Meu estilo de jogar tem muito desses campeonatos”, conta.

Depois de disputar a Série Ouro, ainda em Pelotas, chamou a atenção da ACBF. Na Serra viveu anos de glória e conquistou sua primeira Liga Nacional. Jogou também por Intelli, vencendo a Liga mais uma vez, e Joinville, último clube antes da desventura no Oriente.

A primeira convocação para a Seleção foi em 2011. Três títulos e muitas lembranças. “Eu joguei aquele jogo em 2014 contra a Argentina no estádio Mané Garrincha. Tinha 56 mil torcedores, o maior público pra um jogo de futsal. Fiz um gol na vitória por 4 a 1. Um momento único”, destaca.

Em 2016, depois da viagem para o outro lado do mundo, aonde nem chegou a atuar, veio o intervalo forçado na carreira. Mas Sinoê não parou totalmente. Além dos jogos entre amigos, montou uma escolinha de futebol de salão no Capão do Leão. Chegou a ter 130 alunos. “Foi muito legal poder passar para os pequenos um pouco da minha experiência, mas também aprendi muito com eles.”

De volta às quadras há menos de seis meses, Sinoê já se sente em casa no Marreco – tanto que renovou o contrato por mais dois anos com a equipe paranaense. O principal projeto para 2018 é levar a esposa Paula e as filhas Júlia e Lívia para Francisco Beltrão. “Elas são tudo pra mim. Só estou jogando hoje porque minha mulher não me deixou desistir. Minhas filhas são minhas joias, agradeço a Deus pela família que tenho.”

Nesta segunda-feira o Marreco saberá quem enfrenta na semifinal da Liga Nacional. O adversário sai do confronto entre Sorocaba, do ídolo Falcão, e a Assoeva. No primeiro jogo, 2 a 0 para a equipe de Venâncio Aires. Do outro lado da tabela, a vaga da final será disputada por Foz Cataratas e Joinville, que eliminaram os gaúchos Atlântico e ACBF, respectivamente. As datas dos confrontos ainda não foram definidas. O que já está certo é que Sinoê – aquele que já pouco desfilava no ginásio de Quintana, talhado nas quadras da Zona Sul – estará lá em busca de mais um título.