História dos Campeões – Intelli: da indústria para o clube
Entrevista com Cidão (Técnico) e Carlão (Supervisor)
A ADC Intelli foi criada na crença do empresário Vincenzo Spedicato, em que trabalho e lazer podiam criar um ambiente saudável. Ao passo que também representaria a cidade para além de suas fronteiras, como marca a estrofe do hino:
“No coração da mogiana já nasceu
O coro mais profundo
Para o time que resplandesceu
De Orlândia para o mundo”
E seus funcionários seguiram este caminho lógico, da linha de produção para as quadras. Assim foi em dezembro de 1977, quando nasceu a Associação Desportiva Classista Intelli e também com os irmãos Aparecido Donizete Silva e Carlos César da Silva, em 1985 e 2009, respectivamente. A seguir, confira entrevista com Cidão (Técnico) e Carlão (Supervisor), revelando detalhes de suas trajetórias e das conquistas da Intelli.
Do financeiro para a beira da quadra
Hoje com 51 anos, quando por volta dos quinze, Aparecido Donizete trabalhou em uma agremiação de Orlândia, no qual, pegou gosto ao “ajudar na organização”. Em meados de 85 mudou de emprego e rumou para a Intelli e tão logo se envolveu no clube também. Quando soube da necessidade de alguém em tempo integral no comando do time, Aparecido “trabalhava no financeiro, com contas a pagar” e saiu do setor para “cuidar do time”.
A partir daí, guiado pelo interesse profundo no assunto e uma rápida experiência como jogador no campo, Cidão, como é conhecido, foi “autodidata” na profissão de técnico de futsal.
Para quem diz ter a própria “história misturada com a do clube”, afinal são 30 anos de casa, fica fácil contextualizar o crescimento e mudanças de atitude pelas quais passou a Intelli. “Foram etapas bem definidas”, segundo ele. “Primero time de funcionários para jogar na cidade”. Na sequência surgiu “a busca pela conquista da região”. Após ganhar os eventos regionais, o objetivo tornou-se o título de campeão do interior paulista, “que na época tinha um campeonato muito forte”. Conquistaram. “Daí veio o estadual e, por fim, começamos a buscar a Liga Nacional em 2003, 2004”.
Até por estas mudanças, Cidão foi sempre se provando e desafiando seus limites, do time e do clube. Todos eles galgaram juntos novos patamares, por meio da “busca constante pelo resultado”. “Desde quando éramos ‘pequenos’”, conta, “sempre tivemos um adversário a ser batido e queríamos montar um time mais forte, para bater aquele time em específico”, na ânsia por vitórias.
Porém, com a mudança repentina de status, o time de Orlândia passou a ser o adversário a ser batido. “De repente chega uma seleção brasileira à sua disposição, o investimento alto”, portanto, “existiu pressão de todos os lados, de fora para dentro e de nós mesmos também”, explica o técnico. A estratégia de Cidão, diante deste novo cenário, consistiu em “não mudar nado do que fazia antes ou de quem eu era”, diz aos risos.
A seguir, para exemplificar o estilo de comando do técnico, dois causos dos títulos, porque uma boa história interiorana nunca está completa sem eles.
Causo 1
Heróis Improváveis – André e César Paulo
Eu tinha um pivô chamado André (hoje no São José). Mas na época, com o Jé e outros em boa fase, ele participava menos. No jogo de ida da final, em Joinville, tinham vários lesionados e o André foi para o jogo com a confiança de todos. Ele marcou um gol que foi o que praticamente selou o título, mesmo sendo terceira opção. E no ano seguinte o César Paulo repetiu a história. Trouxemos o César Paulo do Benfica de Portugal, mas lesões sérias atrapalharam seu jogo, quem entrava mais em quadra eram Jé e Sinoê. Em dado momento do segundo tempo da final do jogo de ida, em Concórdia, jogo duro, observei que o time adversário em quadra estava com jogadores mais leves e o Paulo César é alto e forte na contenção… Apostei que ele podia ajudar, mesmo tendo atuado pouco na temporada e acabou marcando um gol decisivo. Para coroar, quem fez o de empate no jogo de volta foi o Vinícius.
Causo 2
Ressurge um craque – Vinícius
Quando voltou para o Brasil do Dínamo da Rússia, o Vinícius foi considerado sem condições de jogo, inativo para o esporte. Como a família dele é de Uberlândia – 200km de Orlândia – e eu como sempre fui fã desta safra de jogadores (que estão quase todos aposentados agora), de Falcão e Lenísio, pensei em falar com ele. Vamos fazer uma proposta, avalia o joelho e vê se consegue jogar, isso foi no meio do ano. A conversa foi franca, falou preocupado que não estava bem, mas acreditava que podia voltar a jogar, uma pessoa idônea. Ele queria fazer um acordo: ‘se eu conseguir jogar, assinamos contrato e jogo, senão nem assino contrato e vocês não perdem’. Ele chegou com contrato e tudo – e teve clube brasileiro que não quis – e foi um dos principais do elenco nas duas conquistas.
Na final ele fez o gol do título. Quis o destino que as coisas podiam caminhar e darem certo.
Causo 3
O Intangível
O empate era nosso, mas tínhamos estudado o Concórdia (adversário da final), e vimos uma falha na marcação de goleiro linha, porque eles erraram contra o Carlos Barbosa nas quartas de final. Eles venciam por 2 a 1, faltando 2 minutos para acabar o jogo, fizemos o desenho ensaiado. Na ocasião, o Carlos Barbosa teve quatro ou cinco chances, a nossa primeira bola veio pelo alto e o Falcão fez de cabeça o gol do título.
Tem coisa que não se esquece. Como foi também aquele gol no último segundo, no Parque São Jorge, é algo que não se repete.
Direto do chão de fábrica da Intelli para os bastidores da época áurea do futsal orlandino
Também (ou até mais) conhecido como Carlão da Intelli, ele trocou o chão de fábrica pela assessoria de imprensa do clube e desde 2013, estendeu sua atuação ao cargo de Supervisor. Carlão chamou a atenção por escrever uma coluna esportiva no finado jornal de Orlândia, A Notícia. “Como do esporte nacional os grandes veículos já se ocupam, procurava dar mais atenção aos times da cidade e principalmente ao futsal”, explica.
Carlão chegou ao clube precisamente no início da ascensão da Intelli ao nível maior do salonismo brasileiro. “Tenho que parar para pensar se em algum ano meu aqui no clube ficamos sem título”, confessa.
Recepção do Falcão e Primeira Coletiva de Imprensa
Quando o Falcão chegou em Jaraguá do Sul, ele não era o astro que a gente sabe hoje. Já tinha feito uma história fantástica no futsal, mas não é nem metade do que é hoje, que já conquistou todas as Ligas possíveis. Ele chegou com outro status aqui, além disso, Jaraguá é um pouco maior, Orlândia é uma cidade de 30 e poucos mil habitantes.
Seguramos uns 15 dias para divulgar a informação da contratação dele, para poder fazer isso da forma mais estrondosa possível. Começamos a passar adiante, no dia tal, na rádio tal vamos fazer uma declaração bombástica. E ela não vazou! Quando anunciou na rádio de Orlândia, ao meio dia, meio dia e cinco, já estava no trending topics do Twitter, no mesmo dia saiu no Globo Esporte. Nós já tínhamos uma rede de contatos, mas nada comparado a isso.
Falcão estava de férias em Cancun, ele viria para o Brasil e teria um dia e depois iria para a seleção, ficar um mês para disputa das eliminatórias. Montamos um esquema para o negócio não esfriar e fizemos a apresentação neste único dia disponível. Era segunda, cinco da tarde. Segunda-feira chuvosa, às cinco da tarde; tudo para ser uma decepção. Mas, seis mil pessoas estavam esperando. Praticamente um quinto da população da cidade. Foi fantástico, ‘debaixo de chuva e lágrimas, Falcão chega em Orlândia’, foi algo assim que a mídia retratou.
Falcão colocou a Intelli de vez no cenário nacional e nunca mais saímos.
Tentamos jogar o horário mais tarde possível da apresentação. Lembro que ele chegou por volta das quatro da tarde, levamos ele para o local da coletiva de imprensa, que era a 100 metros de onde estava o público. Globo Rio e São Paulo, Record, Bandeirantes, SBT… Foi a primeira coletiva de imprensa que eu organizei. Logo com o Falcão e ‘Os Caras’ da imprensa nacional.
Primeira carreata do título
A carreata foi engraçada, porque o pessoal do time já era acostumado com títulos grandes e nós tínhamos um Paulista, Liga Sudeste, que não deixamos de valorizar, mas não são mais os principais. Os jogadores, habituados com isso, pensaram que seria uma hora e meia de carreata e fizemos oito horas. Alguns, como o Jé, agitaram o tempo todo, mas se alguém visse a cara do Vinícius depois (Carlão ri bastante ao contar)…Mas foi muito legal, em todos os prédios, todo mundo com bandeira da intelli, camisa estendida nos quinze andares, em todas as casas. Este título de 2012 comoveu a todos, foi impressionante até pela forma que foi conquistado (com um empate heroico).
Assessoria e Comunicação LNF