André Sanano FPF

Ricardinho é a estrela do time de Portugal. Foto: André Sanano FPF

O capitão da Equipe das Quinas, que recuperou de uma lesão grave, faz um balanço positivo de três semanas e meia de estágio. O ‘mágico’ tem um percurso fantástico, mas deixa uma página em aberto…

A Seleção Nacional de futsal cumpre esta quinta-feira mais dois treinos no Pavilhão Cidade de Viseu, tendo em vista a preparação para o Campeonato da Europa Lituânia 2021.

A Equipa das Quinas concentrou-se a 8 de agosto e inicia a sua participação no Mundial a 13 de setembro diante da Tailândia. Os últimos jogos de preparação estão agendados para os dias 3 e 5 de setembro, diante do Paraguai.

O capitão da Seleção, Ricardinho, dispensa apresentações, mas é importante recordar alguns dos seus registos ao nível da Seleção Nacional. Entre os convocados é quem tem mais participações em fases finais – vai a caminho do seu quarto Mundial (esteve nos mundiais de 2008, 2012 e 2016) e da sua nona fase final (também esteve nos campeonatos da Europa de 2007, 2012, 2014, 2016 e 2018).

Após três semanas e meia de estágio, fala de “uma evolução muito boa” da equipa.

“Desde que começámos e traçamos os nossos objetivos ao nível do treino e da preparação com o foco no Mundial, acho que temos tido uma evolução muito boa, crescendo de treino para treino e de jogo para jogo, sem grandes sustos (lesões), o que é muito importante. Agora já estamos na última etapa de preparação, com estes dois jogos diante do Paraguai. Acho que já vamos conseguir extrair um bocadinho mais daquilo que foi o complementar de todo o estágio até agora.”

Ricardinho recuperou de uma lesão (em um tendão do tornozelo direito) o fpf.pt quis saber o que os portugueses e os fãs do futsal podem esperar dele neste seu quarto mundial.

“Isto foi tudo muito planeado. Só a lesão é que não foi. Ninguém se queria lesionar numa altura destas, em que vai haver um Mundial e um Europeu tão próximos. Desde o momento da lesão, em que passamos por vários sentimentos – sendo os maiores deles a aceitação e a superação -, começamos a trabalhar em conjunto – com a FPF, os fisioterapeutas e os treinadores. Percebemos que era possível chegar [recuperado ao Mundial]. É certo que trabalhar individualmente não é o mesmo que trabalhar em grupo. Levo apenas 20 dias a trabalhar em grupo. São treinos diferentes – com outra intensidade, com outros movimentos -, mas o que é certo é que me tenho sentido bem em cada jogo. Não tenho tido nenhuma dor, nenhuma recaída… sinto alguma falta de confiança – que faz parte e é normal. Para ser perfeito deveria ter havido quatro ou cinco jogo de Liga e depois sim haver um estágio, mas já sabemos que não conseguimos controlar tudo. Dentro do que controlamos sinto-me bem, com confiança… sinto a confiança do grupo e a proteção deles também… o trabalho do staff do departamento médico tem sido fantástico. Acho que vou conseguir chegar nas melhores condições físicas. Depois, em campo, falta perceber se consigo ‘meter toda a carne no assador’”.

Com 178 internacionalizações, é o terceiro jogador mais internacional de sempre – está a três  jogos de igualar João Benedito (Arnaldo é o mais internacional com 208). Com 139 golos é melhor marcador de sempre (à frente de André Lima e Joel Queirós – ambos com 107).

A um dia de completar o seu 36.º aniversário, Ricardinho, que foi o mais jovem de sempre a estrear-se pela Seleção A (com 17 anos, nove meses e 23 dias – o segundo mais jovem foi Afonso com 19 anos e um mês, falou de um percurso tem sido “muito bonito”.

“É sem dúvida uma viagem no tempo muito bonita. A cada aniversário vês que estás cada vez mais perto do final. E pensas também cada vez mais nessa viagem. Quando cheguei o meu primeiro estágio foi com 16 anos…depois fiz a estreia com 17, no Algarve… algumas lesões que me impediram de jogar outras competições, como o Europeu da Hungria [em 2010] – não estive presente naquela primeira grande final de Portugal. Foi sem dúvida uma história incrível até ao dia de hoje. Espero dar continuidade e se conseguíssemos meter a cereja no topo do bolo que era ganhar uma medalha… e se pudesse ser a de ouro, seria perfeito. Seria brutal, ainda mais num ano que foi de superação. Tem sido fantástico. Vamos deixar esta página em aberto, porque ainda podemos escrever qualquer coisa por aqui.”

Na primeira fase final que disputou, o Euro-2007, o jogador que já passou por clubes em Portugal, Japão, Rússia, Espanha e França, foi eleito o melhor jogador da competição e no último mundial apontou 12 golos tendo conquistado a “Bota de Ouro”, prémio destinado ao melhor marcador da competição. No Mundial de 2012 venceu a “Bola de Bronze”, prémio para o terceiro melhor jogador da competição.

O “mágico” foi o único jogador eleito por mais de quatro vezes como o melhor futsalista do Mundo. Venceu o prémio do ‘Futsal Planet’ em seis ocasiões 2010, 2014, 2015, 2016, 2017 2018. Na última fase final que disputou, o Campeonato da Europa Eslovénia 2018 foi eleito melhor jogador da competição e, com sete golos, foi o melhor marcador da competição.

Ricardinho lembra que não foi há muito tempo que Portugal conseguiu uma conquista. Destaca que é necessário viver o presente, não esquecendo o que foi alcançado há tão pouco tempo.

“Nós, os atletas, temos de viver do presente e viver um pouco do passado quando nos retirarmos, porque aí é quando te sentas no sofá, começas a ver os troféus, os vídeos e tudo aquilo que conseguiste fazer. O desporto não para. É uma constante batalha e está em constante evolução. Depois de ganhar, como ganhámos no Europeu – com tudo o que conseguimos fazer como equipa. Conseguimos ter três dos melhores marcadores. Eu, o Bruno [Coelho] e o Cary estivemos no top-cinco [Ricardinho foi o melhor marcador, com sete golos, e venceu a Bota de Ouro; Bruno Coelho foi o segundo melhor marcador, com seis golos, e venceu a “Bota de Prata”; Pedro Cary, com quatro golos, foi o quarto melhor marcador juntamente com Douglas Jr,]… não sei quantos jogadores no ‘dream team’ [André Coelho, Bruno Coelho, Pedro Cary e Ricardinho]…. Acho que foi algo brutal… ter o melhor Selecionador… São coisas que marcam, mas, quando chega o próximo Europeu, as pessoas pensam que já não vamos voltar a conseguir. É verdade que foi uma marca muito bonita ter sido o melhor marcador do último Mundial, mas ficou-me um amargo de não termos conseguido cumprir um dos nossos objetivos que era conquistar uma medalha. Estivemos próximo, mas nós não podemos estar próximos e agora temos outra oportunidade. Acho que é este o lado bom do desporto – dá-nos sempre uma nova oportunidade para fazer algo novo, algo diferente. Vamos tentar fazer isso. São marcas que vão ficar na história… Os recordes são para se bater, mesmo quando não os queres bater e somente jogas feliz, como é o meu caso.”