Três brasileiros, jogadores de futsal, estão presos em Kherson, uma cidade portuária de quase 300 mil habitantes no sul da Ucrânia, que a Rússia afirmou ter conquistado nesta quarta-feira.

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Daniel Rosa, de 28 anos, mora há um ano e meio na cidade. Numa entrevista ao ge na manhã desta quarta-feira ele contou ter visto tanques e soldados perto de seu apartamento, no centro de Kherson. Nos últimos dias, têm sido constantes os estrondos de bombas e tiros.

– Apesar de ainda termos bastante coisa em casa, não sabemos quanto isso vai durar. Agora pela manhã, a gente desceu no mercado para ver se estava aberto. Nos deparamos com tanques de guerra e voltamos correndo para casa.

Arquivo Pessoal

Ewerton, Daniel e Cláudio, jogadores de futsal na Ucrânia. Foto: Arquivo Pessoal

Daniel mora sozinho, mas faz uma semana que divide o apartamento com outros dois jogadores brasileiros – Ewerton Florêncio e Cláudio Garcia. Eles estão acompanhados de uma tradutora ucraniana.

Exatamente uma semana atrás, o ônibus do time que eles defendem, o Prodexim Kherson, voltava de uma viagem a Ivano-Frankivsk (cidade no Oeste da Ucrânia), quando souberam que a Rússia estava atacando a Ucrânia.

– Faltava uma hora para a gente chegar na cidade e começamos a ver o movimento de carros saindo da região. Todo mundo saindo da cidade e nós voltando. Procuramos nos informar e soubemos da invasão.

Depois de alguns dias de relativa tranquilidade – mercados abertos, era possível comprar mantimentos – os jogadores do time foram se esconder na casa do técnico, Dmitry Berbentsev, que tem um porão, um espécie de bunker.

Após algumas noites, os brasileiros voltaram para o apartamento de Daniel Rosa. Mas, desde a última terça-feira, estão sob a recomendação de não sair de casa. Para se ter ideia do nível de tensão, nem mesmo as luzes do apartamento eles podem acender durante a noite.

Na manhã desta quarta-feira, o prefeito da cidade – e também presidente do clube – Igor Kolykhaev publicou a seguinte mensagem no Facebook, dirigida aos cidadãos de Kherson:

– Ontem [terça-feira, dia 1 de março] à noite quando eu e minha equipe estávamos na prefeitura, o prédio foi atingido. Todos estão vivos. Mas te peço novamente: não saia de casa. Não provoque um tiroteio com suas ações e comportamento. Estamos numa situação muito difícil. Não precisamos complicar. Hoje vou trabalhar para encontrar uma saída para recolher os mortos, restaurar as ligações de energia, gás, água e aquecimento que foram danificadas. Mas já deixo avisado: realizar essas tarefas hoje significa fazer milagre. Estamos todos à espera de um milagre agora. É disto que precisamos.

Essa recomendação torna mais difícil qualquer plano de deixar a cidade. Kherson fica no sul, perto da Criméia, região que já foi anexada pela Rússia em 2014. Segundo Daniel Rosa, não há trens disponíveis. A única maneira seria pegar um carro e ir até a fronteira da Moldávia, que fica a 300 quilômetros. A estrada passa por Odessa, cidade na qual o exército russo também já chegou.

– Muita gente fala: por que não saíram ainda? Não tem como no momento. Tem gente que está há dias na fronteira sem conseguir passar. Tem histórias de pedem subornos. Não adianta ir para a fronteira sem ter a certeza de que vai passar. Estamos com pouco dinheiro aqui, não sabíamos que isso iria acontecer. Imagina chegar lá, não ter onde ficar, passando frio. No momento a gente está esperando.

Do outro lado da guerra, em Moscou, está Leonardo Rosa, de 34 anos, irmão de Daniel, também jogador de futsal. Os dois começaram suas carreiras em Jaraguá do Sul, atuaram juntos no Cazaquistão e hoje estão separados por um conflito.

Arquivo Pessoal

Os irmãos Daniel e Leonardo, jogadores de futsal. Foto: Arquivo Pessoal

– Aqui na Rússia a vida está normal, o campeonato está correndo, treinos, escolas. A única questão é a liquidez nos caixas eletrônicos, a gente está preocupado que logo desapareça [o dinheiro] – conta Leonardo.

A tranquilidade relativa com que vive na Rússia contrasta com a apreensão que vive pela situação do irmão, que não consegue sair da Ucrânia.

– No momento, a gente tem rezado para que ele saia de lá o mais rápido possível.

Procurado, o Ministério de Relações Exteriores enviou a seguinte nota ao ge:

– O Itamaraty acompanha o caso dos brasileiros em Kherson e mantém contato frequente com os nacionais. Por conta da situação de segurança naquela cidade, os brasileiros foram orientados, por meio da Embaixada, a procurarem abrigo em local seguro e a manterem contato regular com a Embaixada.