Falcão fala sobre a conquista da Copa do Mundo de Futsal da FIFA com paralisia facial, sua despedida de conto de fadas do Brasil e se algum dia será superado como GOAT.

FIFA
Falcão no título mundial

John Elway sendo MVP do Super Bowl XXXIII em Miami, Ray Borque erguendo extraordinariamente sua primeira Stanley Cup em Denver, Pete Sampras conquistando um recorde de 14º major em Flushing Meadows, Michael Phelps fazendo freestyling para o 23º ouro olímpico no Rio de Janeiro… o esporte viu algumas fadas- despedidas de contos. A camisa de Falcão pelo Brasil supera todas no barômetro da fantasia.

Depois de seu último chute na Copa do Mundo de Futsal da FIFA™ em 2016 – ele desfilou de forma inesquecível no topo dos jogadores do IR Irã para quem o Brasil havia perdido nos pênaltis – ele corajosamente se tornou o primeiro jogador a atingir 400 gols internacionais. Quando Falcão e o Brasil foram mencionados juntos nos dois anos seguintes, essa busca também o foi.

FIFA
Falcão em sua despedida das Copas

O paulista havia anunciado que deixaria de usar amarelo-canário para trabalhar no final de 2018, mas quando passou para 399 gols naquele mês de setembro, parecia quase certo que seu dardo acertaria o centro do tabuleiro. Afinal, uma olhada na lista de jogos da Seleção mostrava que ele teria quatro lances. Falcão empatou em branco no primeiro deles contra a Argentina. Então outro. Esquerda foi uma partida dupla contra o Paraguai marcada para sua despedida – o primeiro jogo em Jaraguá do Sul e o segundo em Tubarão.

Falcão, porém, anunciou que o primeiro serviria de despedida. Ele estava disposto a arriscar permanecer no 399 e ficar eternamente ansioso por seu cumprimento, para jogar sua última partida com uma camisa que amava em um local que amava. Apesar dos apelos para que ele reconsiderasse, Falcão insistiu que sua última aparição aconteceria há cinco anos, na Arena Jaraguá.

Dois minutos e 31 segundos depois, seu templo espiritual entrou em erupção. Falcão não só marcou seu 400º gol pelo Brasil, mas também o fez com um chute de calcanhar de tirar o fôlego. Em cenas que lembram quando ‘O Rei do Futebol’ Pelé marcou seu milésimo gol na carreira no Maracanã, o jogo parou por um longo tempo enquanto ‘O Rei do Futsal’ era assediado e recebia uma camisa com 400 nas costas para desfilar seu público adorador.

Falcão terminou o jogo com 401, outro golaço colocando o Brasil em vantagem por 3 a 2 rumo à vitória. A pista de Jaraguá do Sul finalizou, apesar da proteção total da cobertura, finalizou molhado. Jogadores profissionais, torcedores adultos e crianças choraram simultaneamente.

Falcão conversou com a FIFA sobre aquele dia inesquecível, a aposentadoria, a conquista do título mundial com paralisia facial em 2012, Ricardinho e Uzbequistão em 2024.

FIFA: Há cinco anos você fez a última aparição de sua inimitável carreira no Brasil. Você pode nos contar sobre esse dia?

Falcão: Foi muito especial por vários motivos. Foi na cidade que eu queria que fosse, a cidade onde tive uma carreira muito boa. Foi o lugar onde passei mais tempo – oito anos. A Seleção realmente fez outro jogo logo depois, queriam que eu jogasse, mas eu disse não. Insisti que meu último jogo seria em Jaraguá do Sul. Isso foi mais importante para mim do que atingir 400 gols. Felizmente marquei meu 400º gol, o que tornou tudo ainda mais especial. Ter minha despedida em Jaraguá do Sul, chegar aos 400 gols, fazer dois gols maravilhosos, encerrar com vitória… nem nos meus sonhos mais loucos eu acreditei que poderia correr tão perfeitamente.

Você sente falta de ser jogador de futsal?

Desde que me aposentei, tenho jogado muitos jogos de exibição. Viajo pelo Brasil e exterior, lotando estádios, gostando de jogar futsal. Não sinto falta de treinar todos os dias, mas o que sinto falta são dos grandes momentos, da adrenalina de jogar uma final, de sentir frio na barriga. Faz parte da aposentadoria, mas sim, não posso negar que sinto falta desses grandes momentos.

Como foi sua experiência na sua primeira Copa do Mundo em 2000?

Na minha primeira Copa do Mundo foi muito difícil entrar na seleção brasileira. Consegui entrar no elenco, mas naquela época havia jogadores titulares e reservas – não era como tem sido nos últimos 15 anos, quando os jogadores entram e saem, todos recebem minutos – então foi muito difícil obter oportunidades. Foi muito legal estar na Copa do Mundo, mas ao mesmo tempo muito frustrante porque perdemos para a Espanha. Mas aquela derrota, e estar ao lado de grandes companheiros, foram muito importantes para a minha carreira. Eu aprendi muito. Chorei muito depois da final, mas foi um grande aprendizado.

Qual foi a sensação de vencer a Copa do Mundo de Futsal da FIFA pela primeira vez em 2008?

Fui à Copa do Mundo em 2000. Em 2004 fui titular. Perdemos novamente para a Espanha. Então, em 2008, nós, jogadores, sentimos muita pressão sabendo que poderíamos perder mais uma Copa do Mundo. Sabíamos que vencer no Brasil era fundamental para a nossa geração e para o futuro, então estávamos muito unidos. Quando conquistamos o título, comemoramos muito. Foi muito, muito importante porque se não tivéssemos conquistado o título seríamos conhecidos como uma geração perdedora. Estávamos com muito medo, mas no final tudo deu certo.

FIFA
Falcão com a seleção brasileira

Você teve paralisia facial e uma lesão na panturrilha na Tailândia 2012. Quão perto você esteve de voltar para casa e como conseguiu permanecer?

Entrei naquela Copa do Mundo na minha melhor forma. No nosso jogo de estreia contra o Japão, sofri uma lesão na panturrilha. Alguns dias depois, sofri paralisia facial. Mas esperei quatro anos pela Copa do Mundo, estava representando meu país – não ia desistir. Naquela Copa do Mundo não ganhei a Bola de Ouro nem a Chuteira de Ouro, mas ganhei muito respeito do mundo do futsal pelo que consegui fazer nessas condições. Estávamos perdendo por 2 a 0 para a Argentina e faltava pouco tempo. Marquei dois gols e voltamos para vencer por 3 a 2 na prorrogação. Na final perdíamos para a Espanha a minutos do fim. Empatei e conquistamos o título na prorrogação. Acho que as Copas do Mundo onde ganhei a Bola de Ouro, a Chuteira de Ouro foram menos marcantes que as de 2012. Joguei apenas 28 minutos naquela Copa. Marquei quatro golos – três deles realmente cruciais. Acho que a Copa do Mundo de 2012 é a história mais linda da minha carreira.

FIFA
Falcão com a taça do mundial

Então esse seria o seu melhor momento na carreira?

Acho que tive uma carreira muito sólida. Fui campeão em todos os clubes em que estive. Nos meus 20 anos de Seleção sempre ganhei títulos, bati recordes. Sou o maior artilheiro de todos os tempos da Copa do Mundo com 48 gols. Marquei 401 gols pela Seleção, o que é um recorde para qualquer seleção brasileira independente do esporte. Mas acho que em 2012, quando tive uma lesão na perna na Liga Futsal, mas conseguimos o título com o Orlândia, e logo depois veio a história da Copa do Mundo – foram dois triunfos muito especiais para mim em um ano que termina em 12, que é o meu número.

Você acha que alguém superará Falcão como o maior jogador da história?

Envolve muito. Aí estão os registros, tudo que eu fiz. Acho que minha história em 2012 é única em todos os esportes – ninguém jogou com paralisia facial e foi crucial para vencer jogos. Acho que o futsal existia antes do Falcão, durante o Falcão e depois do Falcão. Dadas as minhas estatísticas – 48 gols na Copa do Mundo, mais de 3.000 gols na carreira, 401 gols pela seleção brasileira, dando uma contribuição crucial para o título mundial enquanto jogava com paralisia facial – acho que minha história envolveu muito. Mas sempre há novos jogadores excelentes surgindo, e isso pode acontecer. Acredito que quanto mais isso acontecer, e quando outros ídolos quebrarem meus recordes, melhor será para o futsal.

Você ficou feliz em ver Ricardinho coroar a carreira ao vencer a Copa do Mundo de 2021?

Por tudo que fez, Ricardinho – em fim de carreira – mereceu o título mundial. Ele foi capaz de combinar o belo jogo com a obtenção de resultados. Sempre houve muito respeito e carinho entre mim e o Ricardinho. Foi por isso que quando Portugal se sagrou campeão do mundo, mandei uma mensagem ao Ricardinho a felicitá-lo. Obviamente sempre torço pelo Brasil e fiquei muito triste quando a Seleção foi eliminada, mas acho que o Ricardinho, pela sua história no futsal e principalmente por voltar de uma lesão grave, mereceu o título mundial.

FIFA
Ricardinho é o melhor do mundo

Quem você considera o melhor jogador do mundo atualmente?

Acho que há muitos jogadores lá em cima. Pito se desenvolveu muito. Ferrao mantém um nível muito alto há alguns anos. Não acho que nenhum jogador seja uma classe à parte dos demais, mas acho que muitos jogadores realmente bons estão lá. Acredito que o Pito vai se destacar na próxima Copa do Mundo.

Quem você acha que vencerá o Uzbequistão em 2024?

Acho que depois da última Seleção que fiz parte o nível caiu um pouco. Agora acho que voltou. Acho que o Brasil está muito bem preparado e tem uma grande equipe. Acho que o futsal evoluiu em todo o mundo. Isso significa que cerca de 10 seleções poderão vencer a Copa do Mundo. Mas penso que Portugal é muito forte, tem muitos jogadores de alto nível. A Espanha sempre teve uma liga muito boa e grandes jogadores. A Argentina foi campeã mundial em 2016, foi vice-campeã na última Copa do Mundo. Acho que a Argentina joga muito bem junta e é bem treinada. Acho que essas quatro seleções estão um centímetro acima das demais, mas acredito que muitas seleções podem surpreender na próxima Copa do Mundo.

Quão satisfeito você ficou com o anúncio de que a primeira Copa do Mundo Feminina de Futsal da FIFA™ acontecerá em 2025?

Muito. As meninas realmente merecem. Eles lutaram por muito tempo por um esporte melhor. Agora que tem Copa do Mundo, mais empresas vão investir no futsal feminino, as jogadoras vão poder ganhar mais com patrocínios. Acho que chegou o momento de uma Copa do Mundo organizada pela FIFA. Estou muito feliz pelas meninas e acho que é ótimo para todos porque o nível que elas jogam hoje em dia é muito alto.