Desde o dia 1 de fevereiro, estão acontecendo em Carlos Barbosa, Rio Grande do Sul, as Eliminatórias para a Copa do Mundo Fifa de Futsal 2020, que termina no próximo dia 9. De lá, sairão 4 seleções representantes da Conmebol classificadas para o mundial.

É a primeira vez que as mulheres são incorporadas para uma equipe em uma competição masculina organizada pela Conmebol. São elas: a argentina Maria Estefanía Pinto, a chilena Valeria Palma e a brasileira Anelize Schulz.

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Árbitra brasileira escalada para partida das Eliminatórias Sul-Americanas da Copa do Mundo FIFA de Futsal 2020. Foto: Divulgação

A equipe do espnW.com.br conversou com Anelize, que arbitrou a vitória de 6 a 1 do Chile diante da Bolívia. Nascida em Jaraguá do Sul, mas atualmente morando em Blumenau, estado de Santa Catarina, ela foi atleta de futsal durante 10 anos.

Junto a isto, Anelize formou-se em Educação Física e finalizou duas pós-Graduações: uma em Fisiologia do Exercício, e a outra em Psicomotricidade e Inclusão Escolar. Durante a época de estudos, ela apitava jogos de futsal como forma de estágio. Em 2005, ela fez sua última competição oficial como atleta de futsal.

“Não era mais atleta e passei a sentir muita falta do meio esportivo. Foi onde então tive a ideia de procurar um curso de arbitragem de futsal”, disse ao espnW.com.br

Em 2008, Anelize fez um curso promovido pela Liga Blumenauense de Futsal e passou a estar qualificada a apitar os jogos regionais. Três anos depois, ela foi indicada pela liga para fazer o curso da Federação Catarinense de Futsal e, no ano seguinte, o curso da Confederação Brasileira.

“A Confederação Brasileira de Futsal me indicou a fazer os testes para Fifa, aprovada e apta passei a compor o quadro internacional”, falou Anelize que, desde 2018, faz parte oficialmente do quadro de arbitragem da Fifa e pode arbitrar partidas internacionais.

Esta eliminatória marcou a primeira vez que Anelize trabalhou como árbitra em uma partida de futsal. Ela conta que na Fifa, os árbitros fazem todas as funções e por isso, anteriormente, ela já tinha feito parte da arbitragem de outras maneiras: ela já passou por cronometrista, terceira árbitra e árbitra reserva.

Mas apesar da novidade e responsabilidade, a árbitra conta que saiu satisfeita: “Sabia da responsabilidade e das expectativas. Antes do jogo, planificamos o trabalho e isso nos dá segurança e tranquilidade para conduzir a partida. A sensação foi de objetivo e um sonho alcançado. Espero poder ver mais companheiras de arbitragem vivendo está experiência”.

Rompendo barreiras

Anelize fez história! É a primeira vez que mulheres integram o corpo de arbitragem de uma eliminatória da Conmebol. Para ela, a participação significou um rompimento de barreiras.

“Ser a primeira mulher a apitar uma Eliminatória de Copa do Mundo de Futsal masculina, mostra que a única maneira de romper barreiras é incluir e estamos no caminho certo. Agradeço as pessoas que lutam pela igualdade de gênero”, disse a árbitra.

Mas apesar do marco, há outras mulheres que também já fizeram parte do quadro internacional de arbitragem. Renata Leite, Instrutora Técnica da Conmebol, relembrou que o quadro técnico da Fifa começou em 2007, quando quatro brasileiras foram indicadas a participar. Katiucia Meneguzzi do Paraná, Gisele Torre de Santa Catarina, Alana Lucena do Ceará e Renata Leite da Paraíba.

“Desde 2002 o Brasil tem o quadro feminino de arbitragem. A CBFS [Confederação Brasileira de Futsal] abriu inscrição para mulheres. Vínhamos fazendo esse trabalho e quando chegou em 2007, quando a Fifa abriu inscrições para o feminino, a Fifa automaticamente indicou as 4 para compor o quadro internacional”, disse Renata ao espnW.com.br.

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Anelize Schulz vem se destacando na arbitragem internacional

A instrutora relembra que Gisele Torre foi convocada como árbitra suplente para a Copa do Mundo de Futsal no Rio de Janeiro, em 2008, mas não chegou a atuar. E relembrou dela mesma numa partida importante que dirigiu.

“Em 2012, eu tive o prazer de estar na Tailândia e participar do Mundial e lá sim poder dirigir uma partida de Copa do Mundo, trabalhei em várias partidas, inclusive no jogo das quartas de final que foi Itália e Portugal, fiz a abertura da Copa do Mundo junto com um peruano, no jogo entre Tailândia e Costa Rica e ainda tive o prazer de trabalhar na decisão de terceiro e quarto, Colômbia e Itália e trazer uma medalhinha pra casa, e isso foi muito gratificante”, relembrou Renata, complementando que duas árbitras também foram convocadas para o Mundial de Clubes.

Ser árbitra é algo ainda ‘incomum’, por vivermos em um meio ainda predominantemente masculino. Muitas mulheres ainda passam por dificuldades para se sentirem incluídas e Anelize diz que justamente por ser um ambiente de maioria homens, ela nunca desistiu e sempre procurou trabalhar de forma mais profissional possível. “Acreditava que só assim poderia vencer todos os obstáculos que estariam por vir”, falou.

Renata também ressalta que a procura de mulheres na arbitragem não apenas de futsal, mas também de futebol tem crescido muito. Exemplo disto é que, no ano passado, a Federação Paulista de Futebol abriu inscrições para um curso apenas feminino. A instrutora fica feliz com a procura, mas claro que gostaria que fosse maior.

“Lógico que nós gostaríamos que fosse maior, que tivéssemos mais meninas, quanto mais novas melhor ainda, mas não posso te dizer que a procura não existe. Ela existe sim e numa quantidade muito interessante para a modalidade”, complementa Renata.

Anelize acredita que a experiência dela nessas eliminatórias pode dar visibilidade e incentivar mulheres a se interessarem pela função.

Mas, para isso, a árbitra acredita que precisa haver um trabalho das entidades. “Precisamos que as entidades que representam o futsal continuem capacitando e incluindo as mulheres nas competições masculinas”, finaliza.

Renata também aproveita para defender a capacidade ao invés de gênero e conclui: “Precisamos parar com essa mentalidade de observar mulheres e homens e sim, observar profissionais capacitados para estar dentro de uma quadra, dentro de um campo, de uma arena dirigindo a partida. Essa é a parte mais importante”.