Taís Magalhães
Neguinho já venceu um título pela seleção brasileira, o Torneio de Toulon, na França

Os clubes gaúchos têm um único atleta convocado para a seleção brasileira de futsal, que, na próxima semana, disputa a Copa das Nações, em Sorocaba, no interior de São Paulo. João Victor Alves Sena, o Neguinho, fixo do Atlântico, de Erechim, viaja no próximo domingo (10) para dar início à preparação com o time do técnico Marquinhos Xavier.

Nascido na cidade de São Paulo e com uma infância permeada por dificuldades financeiras, Neguinho vive, aos 23 anos, a realização de um sonho: ser um profissional do futsal. Depois de passar por times como Corinthians, na terra natal, e Mallorca Palma Futsal, na Espanha, o atleta chegou ao Atlântico em fevereiro deste ano.

Para o jogador, a tranquilidade da vida cotidiana de Erechim é um atrativo, ainda mais se comparada à agitação do Itaim Paulista, bairro onde foi criado pela mãe, que trabalhava como doméstica. A boa adaptação da família ao município gaúcho é dos fatores que levam Neguinho a afirmar que permanecerá no Atlântico no próximo ano — o atual contrato se encerra no final de 2023  —, mesmo sem esconder a vontade de retornar ao continente europeu.

Em entrevista a GZH, o fixo conta como foi o início da carreira, a passagem pela Europa, os projetos para o futuro e a expectativa para a Copa das Nações, competição que reunirá Brasil, Japão e Arábia no Grupo A e Irã, Paraguai e Colômbia no Grupo B. Os times jogam entre si dentro dos grupos, e os dois melhores avançam para as fases eliminatórias. Os jogos serão transmitidos pelo SporTV.

Como que está a ansiedade para o torneio de seleções? Acredito que a gente vai fazer uma grande competição. Espero que a gente saia campeão. Estou muito confiante e venho me empenhando para dar o meu máximo. Já tive outras passagens pela seleção. Fiz um treino com a seleção no final de 2021 e, em fevereiro de 2022, disputei a Copa América. Ficamos em terceiro lugar. Mais tarde, no mesmo ano, joguei o Torneio de Toulon, na França, quando fomos campeões. Foi um período de muita aprendizagem.

De que forma você se aproximou do futsal?

Sempre joguei bola, desde pequeno. Venho de um bairro muito humilde, uma comunidade. Minha mãe sempre me aconselhando. Era sempre só ela e eu. Mas eu consegui correr atrás das oportunidades. Minha mãe era doméstica e trabalhava muito. Então, eu tinha que atingir certa idade para pegar um “busão” sozinho e ir para o treino de algum clube. Quando eu fiz 16 anos e já conseguia me virar sozinho, comecei no Clube Esportivo da Penha, que é um clube de base. Comecei em 2016. Recebi dois convites do Corinthians enquanto estava lá, mas resolvi ir para o campo. Fui para o Juventus, da Mooca, onde joguei o Paulista. Subi para o sub-20, fui bem. Aí veio o terceiro convite do Corinthians, e optei por ir, em 2018, voltando para o futsal.

E como foi a sequência da carreira?

Ao todo, fiquei quatro anos no Corinthians. No ano passado, fui para a Europa, para o Palma, de Mallorca, na Espanha. De lá, vim para o Atlântico.

É muito difícil consolidar uma carreira no futsal?

É muito complicado. Tem jogador que vai para outro Estado sem conhecer nada. Tem clube que não dá alimentação muito boa. O cara fica longe da família. Tem clube que paga pouco. Tem que ser muito forte para seguir essa vida.

E você tem se adaptado bem ao Rio Grande do Sul?

Estou me sentido muito bem. Minha adaptação foi muito boa. Erechim é uma cidade bem tranquila. Em São Paulo, as coisas já são mais corridas. Nós, jogadores, deixamos nossas famílias muito sozinhas. Em Erechim, minha esposa e filha podem ir no mercado e no parque sozinhas, com tranquilidade. E eu posso entrar em quadra tranquilo também.

Quais são os seus planos para o futuro?

Meu contrato com o Atlântico vai até o final do ano. Depois, estarei livre para negociar. Eu pretendo estar sempre na Seleção. Eu sou muito família. Minha família estando bem, vai refletir em mim, e vou dar o melhor em quadra. Eu acredito que minha família está bem aqui. Minha filha já está na escola. Minha esposa faz academia. Acredito que eu fique. Claro que não depende só de mim. Acredito também que vou ficar aqui mais dois anos, no máximo. Depois disso, estarei com 25 e já pretendo voltar para a Europa.

Existe diferença entre o futsal praticado na Europa e o do Brasil?

Aqui no Brasil, é um jogo mais pegado, truncado. Lá (na Europa) é um jogo mais técnico, de qualidade. Tem grandes jogadores. Não é à toa que quase todos os clubes têm brasileiros jogando. Outra diferença é que lá a arbitragem para muito o jogo, por qualquer toque. O público lá vive o futsal. Os ginásios são lotados em todos os jogos. As pessoas comentam futsal, postam tudo. O valor do ingresso é muito acessível. As pessoas vivem o futsal muito mais do que aqui. Evoluí muito como jogador lá, principalmente na questão disciplinar.