A história do futsal gaúcho se confunde com a trajetória de Clovis Tramontina. O empresário é fundador da ACBF, equipe que, entre os anos 1990 e 2000, tornou o município de Carlos Barbosa mundialmente conhecido pelos títulos conquistados em quadra. A cidade da Serra é reconhecida por lei federal como a Capital Nacional do Futsal. 

Porthus Junior
O empresário Clóvis Tramontina é um entusiasta histórico do futsal gaúcho.

Nesta semana, aos 68 anos, Tramontina passou a integrar o Conselho de Notáveis da Liga Nacional de Futsal (LNF). O grupo em formação servirá para assessorar a diretoria da entidade em assuntos considerados estratégicos. Ao participar dessa nova iniciativa, o gaúcho pretende retomar a discussão para tornar o futsal um esporte olímpico, seu antigo sonho.

Após sete anos como mandatário da ACBF (1976, 1977, 1986, 1987, 1990, 1993 e 1995), Tramontina ocupa a posição de presidente de honra e segue envolvido com os rumos da equipe. Em 2024, ele apoiou a decisão do clube de voltar à Série Ouro e, desta forma, sair da competição promovida pela Liga Gaúcha. Sobre a mudança para o estadual da Federação Gaúcha de Futebol de Salão (FGFS), o dirigente já faz observações importantes sobre problemas na organização do campeonato.

Em entrevista à GZH, Clovis Tramontina também projeta o cinquentenário da ACBF, comemorado daqui a dois anos. Fundado em 1976, o time pretende retornar ao cenário de conquistas nacionais e internacionais até lá. Atual campeã da Liga Gaúcha, a ACBF não é consagrada campeã da Liga Nacional desde 2015. Confira abaixo!  

Como a entrada no Conselho de Notáveis da LNF pode ajudar na luta para tornar o futsal um esporte olímpico?
Como eu costumo brincar, até cuspe em distância é jogo olímpico e o futsal não é. Por quê? Porque falta organização. E a Liga tem uma possibilidade de ser a representação legal desse país no aspecto de ser protagonista para levar o futsal a ser olímpico.

Como essa falta de organização prejudica o futsal?
Eu acho que a primeira razão de não ser olímpico é a falta de organização e de união do nosso esporte aqui no Brasil. Nós temos Liga (Nacional), nós temos Confederação (Brasileira de Futebol de Salão), nós temos ligas estaduais. Então, isso mostra, sim, uma dificuldade para termos uma unidade em relação a isso. Em outro aspecto, tem um problema de nível internacional, entre o COI (Comitê Olímpico Internacional) e a Fifa. A Fifa gosta de fazer duas Copas do Mundo. E eu defendo que o futebol nem deveria fazer parte das Olimpíadas. Na minha opinião, o futebol tem que ficar com a Copa do Mundo e o futebol nas Olimpíadas poderia ser representado pelo futsal, pelo beach soccer (futebol de areia). Isso seria bem mais interessante.

O quanto essa divisão entre entidades como a Liga Nacional, a CBFS e CBF prejudica o futsal brasileiro?
É lamentável. Isso mostra onde está o nosso futsal. Eu tentei fazer uma união da CBFS com a CBF para que a CBF assumisse o futsal, como é em outros países do mundo. Aqui no Brasil teve uma anomalia, que foi a criação da Confederação Brasileira de Futebol de Salão. Atualmente, a CBF ficou com a seleção brasileira. Ou seja, a CBF está com o principal produto. É um negócio lamentável.

A Liga Nacional é uma entidade séria, forte e que tem finanças em dia, toda auditada. A CBFS tem a legitimidade. A Liga não tem legitimidade. Só que a Liga é organizada e teria todas as condições para levar esse esporte adiante.

Em 2024, tivemos a saída da ACBF da Liga Gaúcha para a Série Ouro, da FGFS. O senhor participou dessa decisão? Qual é a sua opinião sobre ela?
Eu fui um dos grandes líderes da criação da Liga Gaúcha. Com o passar do tempo, eu fui voto vencido. E tenho que dizer que eu dei o meu apoio, no final, de sair da Liga e voltar para a Federação. Nós ganhávamos competições e não tínhamos direito à participação de nada. Nós tivemos que voltar à Federação para tentar retornar para uma Taça Brasil ou a uma Libertadores da América, coisa que na Liga Nacional ou na Liga Gaúcha tu não consegue.

Essa foi a razão da mudança. Mas nós já estamos sentindo as dificuldades do que é disputar uma competição com a Federação. Não tem a organização da Liga Gaúcha. Ou seja, aquela coisa de ter quadras bem determinadas, de segurança e tudo mais. Coisas que a Federação não tem. Isso precisa melhorar muito. Eu sou um crítico e tenho que dizer o seguinte: o futsal gaúcho está perdendo muito com essa divisão.

O senhor acredita que Liga Gaúcha e Federação podem se unir futuramente?
Eu estou batalhando muito para isso, mas temos que deixar de lado os egos e as intenções individuais e pensar no coletivo. O dia em que os dirigentes da Federação e da Liga Gaúcha pensarem assim, eu tenho certeza que nós vamos fazer essa junção.

A ACBF está invicta nesta Liga Nacional e tem grandes objetivos pela frente por conta do cinquentenário. Quais são os planos do clube?
Nós pretendemos voltar a ser campeões da Liga Nacional, voltar a uma competição internacional, como a Libertadores, e até ao Campeonato Mundial. Outro aspecto que nós queremos nesses próximos dois anos é tentar um título gaúcho na Liga Feminina. Esse ano nós vamos dar uma trégua no feminino para montar uma equipe para sermos campões em dois anos. É o título que falta para nós e vamos buscar.

De 1976 para cá, o senhor deve ter passado por muitas mudanças no esporte. Quais foram as principais?
Naquela época, nós tínhamos uma coisa muito amadora da ACBF. Hoje, somos profissionais. Hoje em dia, o que nós enfrentamos de maior dificuldade é a competição com o mercado exterior. Estamos perdendo muitos atletas, pelo câmbio, pelos valores. Nós estamos perdendo atletas jovens para Itália, Espanha, Rússia, Portugal. Nós não temos condições de competir financeiramente com esses países. Eu era da época da bola pesada. Agora é outra bola. O futsal evoluiu muito. E para melhor.

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Clóvis esteve nas principais conquistas do clube.

Além disso, hoje em dia, existem muitas outras opções de lazer. Está difícil atrair público para o ginásio?
É um desafio. Nós estamos criando atividades diferentes. Nós queremos criar o Match Day, no qual teremos outros atrativos, além do jogo em si, para que a gente atraia as crianças, as famílias, para que elas convivam com o ginásio. Também estamos tornando o ginásio cada vez melhor. A nossa ideia, inclusive, é tentar climatizar o nosso ginásio nos próximos anos. Quanto mais conforto tivermos, mais pessoas a gente vai atrair.