Com duas semanas de muita chuva, Pernambuco vive um drama. Até aqui, 37 municípios decretaram Estado de Calamidade Pública, mais de 128 mil pessoas precisaram deixar suas casas e 129 morreram, conforme números atualizados até a tarde de quarta-feira, 8. Além de quem vivencia de perto a tragédia, sofre quem é da terra, está longe e se lamenta por não poder fazer mais por seus conterrâneos. O Marreco tem quatro atletas pernambucanos – Joãozinho, Victor, Zé Marques e Amadeu. Este último, fixo de 32 anos, acompanhou o sofrimento da mãe, Maria José.
Aos 54 anos, a moradora do bairro de classe média, Jardim São Paulo, não foi uma das vítimas da chuva, mas passou por momentos horríveis. Na madrugada de 28 para 29 de maio, sábado e domingo, respectivamente, ela estava acordada quando a residência foi inundada. Mais de dois palmos de água deixaram-na ilhada até terça-feira. Com tomadas imersas, ela permaneceu no alto de um sofá, calçando botas, sem dormir durante o período. Os dois irmãos de Amadeu não conseguiam chegar até a casa.
Ela foi “liberta” na terça-feira, quando os vizinhos reuniram-se e construíram um bote. Não fosse a tragédia, nessa data dona Maria José deveria estar em Francisco Beltrão. O vôo dela foi agendado para o dia 30. “Se saísse pra rua a água batia no pescoço. Precisei ligar na companhia aérea e remarcar para quarta-feira, pois não havia forma d’ela sair”, relata o atleta. No novo agendamento, ela enfim pôde chegar ao Paraná e acompanhar, no dia seguinte, o nascimento do segundo filho de Amadeu, a Maria Isa.
“Não foi a primeira vez que ela presenciou enchentes, mas até então nunca havia sido tão sério. Antes, a casa inundava, a gente saía e, em três horas, voltávamos para limpar tudo. Agora teve o primo de minha cunhada que perdeu os pais, os avós e dois enteados, num bairro próximo ao de minha mãe.”
Dona Maria José é dona de casa e vive com a ajuda que Amadeu e os outros filhos lhe dão. Ela perdeu sofá, geladeira e cama. Para ajudar os afetados, o Governo do Estado de Pernambuco oferecerá um auxílio emergencial de R$ 1,5 mil.
Assim como Francisco Beltrão, conforme explica Amadeu, Recife é uma cidade cortada por rios. O maior e mais famoso é o Capibaribe, que cruza a cidade toda. Em época de chuvas, alguns bairros são mais afetados com as enchentes, por fatores como lixo.
A matriarca da família permanece no Sudoeste, sem data para voltar e se divide entre a alegria da convivência com filho, nora e netos com a preocupação com o “cantinho” deixado no Nordeste.
“Por mim ela fica até quando quiser, para ajudar a minha esposa e não ver as cenas tristes de momento no Recife. Meu irmão vai na casa todo o dia, já fez uma limpeza.”
Segundo Amadeu, segue chovendo na capital pernambucana e os bombeiros avisam que há previsão de mais água.